sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mensagem de Sua Excelência o Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos de Almeida Fonseca, por ocasião da celebração do Dia Nacional da Cultura e das Comunidades 18 de outubro de 2013


Os cabo-verdianos construíram a sua identidade ao longo de séculos de luta permanente contra as adversidades da natureza, contra a incúria dos poderes coloniais, remando sempre contra a maré e contra os ventos poderosos da desdita e do esquecimento.

A Cultura, a nossa segunda natureza, contém essa difícil relação com um meio, muito difícil, por vezes hostil, mas, igualmente, com a nossa capacidade de criar, de engendrar o Belo, na música, na poesia, na dança, na ficção, nas artes cénicas, nas artes plásticas, num processo claro de humanização.

A nossa língua, o nosso modo de ser, a nossa forma de amar, de criar, a nossa Cultura, consubstanciam, são, pode dizer-se, nossa Pátria. Os seus alicerces são o nosso chão, as nossas ilhas. Mas a Cultura as transcendeu, dando à Pátria uma dimensão quase infinita, ultrapassando a limitação física, engendrando uma mesma alma em seres que nunca pisaram o solo que a originou.  

Assim, continuamos a ser nós, a principal riqueza de Cabo Verde, nós, mulheres e homens deste querido torrão - ainda que nem sempre tenhamos o nosso umbigo nele enterrado -, com a nossa marca singular.


A Cultura é, pois, a alma de um povo, a sua marca, seu selo, sua condição de sucesso. Por isso, no Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, mister se torna reforçar as mensagens que tenho transmitido, a saber:
·         Os responsáveis pela criação e divulgação da nossa Cultura, no arquipélago e na diáspora, devem reforçar a mensagem de, sem qualquer tipo de interferência na liberdade criativa, engajamento e comprometimento com uma maior integração entre todos, sem nunca abdicar da perspectiva universal que a Cultura deve conter.
·         Um maior intercâmbio dos produtores de cultura residentes no arquipélago com os estão na diáspora só poderá se redundar em reforço da qualidade e diversidade das nossas manifestações culturais.
·         Uma maior, e mais livre circulação, dos nossos artistas e artesãos pelos territórios da Comunidade dos POVOS de Língua Portuguesa, um velho sonho dos nossos artistas, precisa ser equacionado, integrado e levado a cabo na agenda da CPLP.
·         A criação sistemática de condições objectivas (físicas, organizativas, de ensino e legais) e de incentivos que permitam aos criadores desenvolveram a sua arte com liberdade absoluta.
·         É fundamental que os criadores tenham todo o protagonismo na promoção e divulgação da arte, evitando-se a tentação no sentido da manipulação desta nobre actividade para fins que lhe são estranhos.

Gostaria de saudar a recente criação da Academia Cabo-verdiana de Letras, instituição congregadora dos escritores do país que, na linha dos nomes sonantes da nossa literatura, pretende honrar, perpetuar e desenvolver uma das áreas através da qual o génio criador do cabo-verdiano mais se tem concretizado.

Neste dia de hoje – 18 de Outubro – instituído como o Dia Nacional da Cultura e das Comunidades, em que a Nação Cabo-verdiana prestigia e dignifica a sua cultura e homenageia, também, um distinto e nobre filho destas ilhas - Eugénio Tavares - nascido neste dia, em 1867, permitam-me honrar a memória e recordar este nome marcante da nossa história cultural, jornalista, dramaturgo, pensador, ficcionista e poeta, funcionário público e político destemido, activista cívico e cultural, um dos maiores compositores da morna e grande intérprete da alma cabo-verdiana, em toda a sua grandeza, contribuindo, de forma multifacetada e decisiva, para uma identidade muito própria enquanto povo ilhéu.

Permitam-me, igualmente, recordar, de forma saudosa, três nomes sonantes da nossa cultura – Cesária Évora, Bana e Sema Lopi - três ilustres filhos deste torrão que, recentemente, nos deixaram fisicamente, mas, porque encarnaram valores essenciais da nossa identidade cultural, serão sempre lembrados, honrados, perpetuados e cantados.
A trajectória destas ilustres figuras da nossa Cultura deve servir de inspiração na importante e complexa caminhada que visa o reconhecimento da Morna como Património Imaterial da Humanidade.

Aos nossos jovens, no país e na diáspora, costumo pedir que, inspirados nos grandes exemplos e modelos de homens e mulheres cabo-verdianos, participem e ajudem a moldar a nossa alma, a alma do cabo-verdiano, que não fenece, não desaparece, não morre; que ponham toda a sua inteligência, criatividade e irreverência, ao serviço da nossa terra, levantando-a e elevando-a aos céus, a roçar o infinito.

O Dia 18 de Outubro – Dia Nacional da Cultura e das Comunidades - é também o momento de lembrar, com carinho e gratidão, as nossas Comunidades, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e reconhecer o papel de extrema importância que a diáspora cabo-verdiana tem desempenhado na afirmação da independência, no desenvolvimento de Cabo Verde, na construção da nossa democracia, e na perenização da nossa cultura.

No dia de hoje, em particular, devemos lembrar a dimensão cultural da nossa comunidade diaspórica que, mesmo longe, conserva as tradições mais vivas e fecundas herdadas da terra natal. Mantidas, quase intactas e orgulhosamente, na alma dos que partem, as comunidades cabo-verdianas fora do país têm muito contribuído para a garantia do sentido de pertença e de identidade da nossa Nação.
Esta parcela da nação cabo-verdiana está e estará sempre no centro das atenções do Presidente da República, traduzidas, primeiramente, numa actuação que promova o reforço do seu sentimento de pertença a esta Nação, através do estímulo a acções que tenham em vista o recorte da identidade cultural e a ampliação da sua participação política.

A integração das nossas comunidades nos países de acolhimento tem sido uma das minhas prioridades. Continuarei a exercer a minha magistratura de influência nessa direcção, concedendo uma atenção particular a comunidades que se encontram em situação especialmente precária.


No dia em que celebramos a nossa Cultura, cimento que une os cabo-verdianos residentes e os da diáspora, retomo extracto de uma mensagem à Nação que traduz o meu sentimento, profundo e verdadeiro, enquanto cidadão orgulhoso de ser cabo-verdiano e de partilhar a identidade e a alma que nos molda como Povo: «Renovo a minha grande confiança na capacidade e na tenacidade com que mulheres e homens, nas queridas ilhas e na diáspora, engrandecem, no seu dia-a-dia, esta Pátria de Cabral, de canizado e bandeiras, de Eugénio Tavares e Cesária Évora, de pedaços do universo muitos, da morna e do funaná, de B.Leza, de poesia e dança, de claridade e bruma, de teatro e de Ildo Lobo, de Sema Lopi, de Baltazar Lopes e Bana, de caras e sorrisos vastos e lindos, de Arménio Vieira e de muitas cores, de enormes e misteriosos mares, de Travadinha, de Bibinha Cabral e de Djidjinho, mas também de crenças, revoltas e volúveis montanhas, castanhas, roxas, verdes, esta Pátria de esperança e de fundo azul a bordejar o devir colectivo. Em Sal-Rei, em Brockton, na Ribeira de Craquinha, na Buraca e no Príncipe, na Cova de Joana e Achada Lagoa, no Morrinho, em Ponta Verde e Ponta do Sol, na Covoada e em S. Paulo, onde quer que haja a inscrição do nome, onde se vislumbrar um pedaço de Cabo Verde.»

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