segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Discurso proferido por Sua Excelência o Presidente da República, na 18ª Sessão Ordinária da Conferência da União Africana Addis Abeba, Etiópia, 30 de Janeiro de 2012


Senhor Presidente da União Africana, Excelência Yaya Boni,
Senhor Primeiro Ministro da República Federal Democrática da Etiópia, Excelência Meles Zenawi,
Senhores Chefes de Estado e de Governo, Excelências,
Senhor Presidente da Comissão da União Africana, Excelência,
Senhor Secretário Geral das Nações Unidas, Excelência,
Senhores Ministros e chefes de delegação, Excelências,
Senhoras e Senhores Embaixadores,
Minhas Senhoras, Meus Senhores,
Caros irmãos e irmãs,

Permitam-me, em primeiro lugar, endereçar calorosas felicitações ao Presidente Yaya Boni pela sua eleição como Presidente da UA. Auguro-lhe um excelente desempenho a bem da UA e dos países africanos. Ao presidente cessante agradecemos o desempenho posto no bom funcionamento da nossa organização.

Sinto-me particularmente honrado pelo privilégio que me é dado para me dirigir a esta augusta Assembleia, pela primeira vez na qualidade de Presidente da República de Cabo Verde, em exercício de funções há poucos meses, para, em meu nome pessoal e no do povo cabo-verdiano, saudar Vossas Excelências de forma calorosa e fraterna.

Gostaria, desde logo, de vos assegurar o meu total comprometimento para, juntos, continuarmos a lutar, de forma serena, mas firme, para a valorização e credibilização da nossa Organização Continental, tornando-a cada vez mais forte, coesa e respeitada pelos nossos cidadãos e pela Comunidade Internacional.

A nossa organização deve ser um instrumento útil e moderno, capaz de responder, com êxito, aos novos desafios que nos reserva a instável conjuntura política internacional e as legítimas aspirações dos nossos povos.

 Excelências, Caros irmãos,

 O ano de 2011 foi notoriamente marcante para o nosso Continente, sobretudo do ponto de vista político e social. A primavera árabe, os conflitos na Côte d’ Ivoire, no Corno de África e os demais acontecimentos políticos registados no decurso do ano transacto, demonstram, à evidência, que as nossas populações reclamam mais espaço para, livre e democraticamente, expressarem a sua cidadania, em consonância com os ventos de mudança que sopram um pouco por todo o mundo.

Não constitui novidade dizer que o ano de 2012 se anuncia muito difícil. Tendencialmente, a crise económica e financeira mundial se agudizará. Os índices de desenvolvimento da maioria dos países do sul continuarão aquém do desejável, o que, seguramente, contribuirá para o aumento do nível de desemprego, de insegurança e para mais convulsões sociais nos nossos países. Para muitas famílias a pobreza e a fome continuarão a persistir.

Contudo, esta dura realidade não nos deve desencorajar. Pelo contrário, mais do que nunca a África precisa de reconquistar a sua auto-confiança para se posicionar como sendo igual ao resto do mundo, reinventando os seus próprios programas económicos e políticos de desenvolvimento. Com realismo, é certo, deveremos dar provas de criatividade e ousadia na procura de novos paradigmas de desenvolvimento económico e de relacionamento sociopolítico.

Sinto-me optimista, pois, confiante de que uma vez mais saberemos estar à altura dos novos desafios que a conjuntura económica e financeira internacional nos apresenta, como bem enfatizou o Presidente da Comissão, Dr. Jean Ping, no relatório apresentado e que prevê que a África conhecerá, no plano económico, um crescimento na ordem dos 6 %.
Um dos nossos grandes desafios, neste contexto, prende-se com a instabilidade política que condiciona, substancialmente, o desenvolvimento económico do nosso continente e que, felizmente, nos tempos mais recentes tem sofrido algum revés.

A nossa Organização continua, sem dúvida, a ser um parceiro privilegiado nesta luta pelo desenvolvimento, pela paz e o bem-estar social dos nossos povos.

Srs. Presidentes, Caros irmãos,

Uma das principais preocupações da nossa Organização está relacionada com a Paz, estabilidade e segurança. São problemas que afectam directamente as populações das zonas afectadas. As pessoas sofrem as consequências da instabilidade e insegurança directa e diariamente. São as pessoas comuns que morrem, vêm as suas famílias destroçadas ou vêm-se empurradas a aventurarem-se em embarcações muito precárias para escaparem a dificílimas condições de vida consequências de conflitos ou de más políticas. 

A prevenção e resolução de conflitos assume, assim, uma extrema importância e deve continuar a merecer toda a nossa atenção e empenho no sentido da adopção de medidas e acções que provoquem rápidas e significativas melhorias nesse domínio. Esforços vêm sendo feitos no nosso continente e recentemente houve um claro e simbólico reconhecimento com a atribuição do último prémio Nobel da paz a duas mulheres africanas, sendo uma delas a Presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a quem aproveito para endereçar sinceras felicitações.

Srs. Presidentes, Caros Irmãos,

Cabo Verde, país de reduzida dimensão com cerca de três décadas de independência e com uma experiência democrática de poucos anos conseguiu alcançar alguns sucessos, nomeadamente na aprendizagem e consolidação do processo democrático, e obtenção da estabilidade política e institucional, disponibiliza-se, modestamente, a contribuir para a promoção de uma cultura de paz porque convicto de que não floresce a democracia em ambiente de instabilidade permanente e que a Cultura democrática favorece um clima de paz e de respeito pelos direitos e valores da cidadania, que auguramos se tornem uma realidade nos nossos respectivos países.
 
Temos de construir juntos a África do futuro: a África da democracia, da boa governação, dos direitos humanos e do bem-estar material e espiritual para todos os africanos. Este é o caminho seguro para o reforço decisivo da credibilização da nossa organização. Neste contexto será importante a adopção e vigência da Carta Africana da democracia, eleições e boa governação. Estamos convencidos de que temos as condições para dar razão a um nosso colega, quando diz que o século XXI pode ser o século da África.

Conquanto país insular Cabo Verde tem razões acrescidas para acreditar e, consequentemente, incentivar uma verdadeira política de integração das nossas economias, desde que baseadas em princípios realistas e equitativos.

Equitativa porquanto a nossa integração, que se quer regional e continental, só a será de facto, se ela for inclusiva, levando em devida conta os interesses específicos dos pequenos estados insulares e economicamente vulneráveis como é o caso do meu país.

Realista porquanto teremos de ter a exacta consciência das nossas fragilidades. Tanto estruturais quanto organizativas, humanas, técnicas e financeiras, sabendo, por conseguinte, que se trata de um processo negocial complexo que vai exigir de todos nós firme vontade politica e paciência, sobretudo quando se vive uma situação de crise económica e financeira como a que atravessamos actualmente. Cabo Verde acredita também que uma estratégia de integração regional terá, certamente, incidência directa na dinamização das trocas comerciais que esperamos se fortaleçam entre os nossos países.

Srs. Presidentes, Caros Irmãos,

Antes de concluir minha intervenção, permitam-me uma referência ao país irmão Guiné-Bissau onde vai decorrer brevemente um processo eleitoral de suma importância para garantir a sua estabilidade interna. Assim, apelo ao apoio de todos para a realização do processo eleitoral, assim como, ao processo da reforma das forças armadas, igualmente importante para que o país se possa manter na rota da estabilidade e segurança, essenciais ao seu desenvolvimento.

Caros irmãos,
 
Gostaria de manifestar meu apoio à proposta de resolução apresentada pelo Presidente da Guiné Equatorial, no sentido da adopção de uma resolução de apreço ao governo e ao povo chineses pela significativa contribuição à África, num gesto de solidariedade e de amizade em relação à nossa organização.  

Permitam-me, para terminar, agradecer o povo e a República Federal Democrática da Etiópia pelo caloroso e fraterno acolhimento e excelentes condições de trabalho reservados à minha pessoa, à minha esposa e à delegação que nos acompanha. 

Finalizo desejando a Vossas Excelências, assim como às vossas digníssimas famílias, meus votos de um novo ano próspero e feliz.

Muito obrigado.

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