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A minha
primeira deslocação em território nacional no ano que acaba de se iniciar
começa pela ilha de Santo Antão, através do Concelho da Ribeira Grande, de onde
saúdo o valoroso povo desta pujante ilha.
Estar neste
chão para comemorar com a sua gente um dia tão significativo como o deste
Município é, simultaneamente, um motivo de profunda satisfação e um acto de
justiça para com uma das regiões mais dinâmicas do nosso país.
O município e a
cidade onde se vive, se trabalha, se educam os filhos e onde se espera venha a
ser o repouso do guerreiro, hão-de merecer sempre um carinho especial.
Ao observar e sentir
o pulsar da cidade da Praia de Santa Maria experimentamos muita alegria, uma
grande confiança em razão dos avanços já conseguidos e das perspectivas que se
vislumbram, não obstante a complexidade dos problemas ainda não equacionados e
que em boa parte estão fora do escopo do município.
Este corpo a corpo
com a cidade permite-nos apreender ensinamentos e surpreender atitudes que
poderão, enquanto abordagem, estender-se a outras parcelas do país.
Os constrangimentos
ainda são enormes, mas ninguém pode duvidar que existe um discurso e existe uma
praxis dos quais se poderá discordar, mas que - não se pode negá-lo - conformam
uma visão moderna do poder local que coloca o bem-estar das pessoas na primeira
linha e procura conciliar tal perspectiva com a de investimentos no
desenvolvimento sócio- económico do concelho.
Caros concidadãos,
Aproveito esta
oportunidade para deste município, da capital do país, saudar a Nação
cabo-verdiana no seu todo e apelar à força e determinação que sempre a
caracterizaram: todas as mulheres e todos os homens deste país, que no dia- a-
dia nas nossas queridas ilhas e nas mais diversas partes do planeta constroem
esta terra mas também contribuem para edificar o mundo.
Numa conjuntura em
que as nossas dificuldades são bem maiores, em que o esforço para ultrapassar
os constrangimentos são decisivos, como tenho frisado, temos de lançar mão das
nossas potencialidades, das nossas energias e da nossa proverbial capacidade de
resistência para que as limitações económicas e financeiras sejam reduzidas e
para que as suas consequências ao nível das condições de vida das famílias e
das pessoas sejam ultrapassadas ou minimizadas rapidamente.
Todos sabemos que um
dos nossos principais parceiros de desenvolvimento, a União Europeia, atravessa
um período de muitas incertezas com inevitáveis consequências no nosso país, cujo
término ainda não se vislumbra.
Tenho acentuado a
busca de alternativas, o aproveitamento atempado e rigoroso das oportunidades
oferecidas mesmo em tempo de dificuldades, são uma exigência para o
desenvolvimento e para a estabilidade do país. No contexto actual, essa
perspectiva assume uma dimensão ímpar pois pode significar a diferença entre o
sucesso e o fracasso, entre a estabilidade e a incerteza. Por isso,
congratulo-me com o facto de esta postura ser agora também partilhada por
outros responsáveis políticos e por segmentos importantes da sociedade,
casualmente de empresários. Desejamos que medidas nessa direcção sejam
adoptadas de forma efectiva e sistemática, reiterando ao mesmo tempo a nossa
disponibilidade para continuar a trabalhar com os demais agentes políticos, com
destaque para o Governo, pois os superiores interesses do país assim o exigem.
Senhor Presidente, da
CMP,
Srª Presidente da
AMP,
Caros amigos,
Como disse, o
município e a cidade onde se vive, hão-de merecer sempre um carinho especial;
mas um carinho que deve ser traduzido igualmente em preocupações, planos,
programas e projectos, para que tenham todas as condições para continuar a
albergar os seus filhos e visitantes com toda a dignidade, e, principalmente,
para que se mantenham inteiras as condições de vida para as gerações vindouras.
Apraz-me cumprimentar
os cidadãos e as autoridades pelas grandes conquistas já obtidas, mas não
poderia deixar passar a oportunidade de chamar a atenção para as fragilidades e
as vulnerabilidades que ameaçam as condições de vida das gerações futuras.
A cidade da Praia,
como boa parte do país, continua a enfrentar dificuldades que condicionam o
desenvolvimento económico e a qualidade de vida dos cidadãos de modo ainda
muito intenso.
A Praia tem exercido
uma atracção muito forte em relação a pessoas do resto da ilha de Santiago e de
outras ilhas. É a força de trabalho dessas pessoas, aliada à dos autóctones,
que gera a dinâmica que faz da Praia o que ela é hoje – nada mais nada menos do
que o maior centro de negócios do país, mas, também por isso, uma das urbes
mais vulneráveis em termos de equilíbrio ambiental.
A falta de moradia é
uma das consequências dramáticas desta realidade que necessita ser devidamente
equacionada num empreendimento, técnico e político, de alta complexidade: um
modelo urbanístico capaz de minimizar o deficit habitacional, ao mesmo tempo
que procura superar as desigualdades sociais extremadas, e que deverá renunciar
a visões excludentes da cidade, que fazem com que nos planeamentos se ignore a
cidade espontânea e informal onde vive parcela significativa da população.
Neste sentido, os agentes que
actuam na produção do espaço, em especial o Estado, devem, exercer activamente
a sua função de promover a distribuição equitativa e a gestão eficiente dos
equipamentos de consumo colectivos, indispensáveis à reprodução da vida das
populações nos seus locais de residência.
A questão dos
transportes urbanos e a sua estrutura não têm acompanhado o crescimento e
dinâmica da população, revelando-se um dos grandes obstáculos ao
desenvolvimento do concelho. De facto, a liberdade de ir e de vir tem sido
muito condicionada pelos constrangimentos no sector de transporte urbano. Ainda
que a solução definitiva desta questão se inscreva no quadro mais amplo do
desenvolvimento do município e da região, desejamos que as medidas
institucionais recentemente adoptadas e a assunção das responsabilidades socais
por parte das empresas de transporte contribuam para melhorias significativas
das dificuldades.
O sistema de
distribuição de água potável nos bairros periféricos é ainda insatisfatório,
com soluções de continuidade inaceitáveis. Pode a CMP não ser a única
responsável pelo quadro, mas impõe-se que seja absolutamente activa na procura
de soluções e parcerias para ultrapassar a situação.
Em relação aos
mercados, vem-nos à memória o projecto de dotar a Capital de um Mercado
Abastecedor, à entrada da cidade, e de uma rede de mercados distribuídos pelos
bairros habitacionais. Esperamos que, em 2012, o projecto seja posto em
execução, e, caso esteja ultrapassado, penso que seria uma atitude exemplar
explicar às populações a eventual mudança dos planos.
A questão da
insegurança é outra grande questão que, ainda que essencialmente de
responsabilidade das autoridades governamentais, precisa ser equacionada num
quadro de união de todas as forças políticas e sociais na definição de uma
estratégia capaz de prevenir e combater a violência que ameaça a tranquilidade
dos cidadãos e bloqueia a convivência que sempre caracterizou a vida nos nossos
bairros.
Com preocupante
frequência assistimos, através dos meios de comunicação social a apelos ou
denúncias de cidadãos que se sentem muito limitados pela insegurança, ou
recebemos dramáticos abaixo-assinados solicitando medidas com vista a uma sua
contenção, em especial da violência protagonizada por uma parte dos nossos
jovens.
Temos que admitir que
os factores que contribuem para o aumento da insegurança são complexos e
perpassam áreas diversas que vão das desigualdades sociais extremas às mutações
no seio das famílias, da educação à questão dos valores e ao uso abusivo e ao
tráfico de substâncias psicoativas, para citar alguns; mas não podemos de forma
alguma considerar os actuais níveis de violência normais ou consequências
inevitáveis de um qualquer historicismo, ou, então, contentar-nos com
discutíveis analogias que mais obscurecem do que explicam. Pelo contrário,
cremos que as causas devem ser procuradas na dinâmica social actual devendo-se,
ao mesmo tempo, prover as medidas que sejam capazes efectivamente de responder
às necessidades no presente.
Continuamos a
defender com ênfase a perspectiva de se conceder a prioridade máxima à
prevenção e de, simultaneamente, se levar à execução um conjunto de medidas,
inclusivamente repressivas, que se fazem urgentes e necessárias, naturalmente
no quadro da legalidade vigente. Não são adequadas e suficientes meras
declarações de intenção por mais sinceras que sejam ou por mais fortes que se
mostrem. Entre outras apostas seria importante, e assim temos vindo a defendê-lo,
o investimento em meios que potenciem um melhor desempenho na obtenção de
provas e na investigação criminal, e, em geral um investimento seguro nas
polícias de investigação criminal; entendemos, também que a perspectiva de
promover um policiamento de proximidade com o alto envolvimento das pessoas e
das comunidades deve ser sistematicamente concretizada, sem esquecer o
imperativo do combate à cultura da irresponsabilidade e a necessidade de
efectivo exercício da autoridade, em quaisquer circunstâncias, pois que ela se
mostra legitimada em democracia. Não o fazendo, corre-se o risco da
descredibilização do sistema normativo, na sua vigência e validade ou, então,
em momentos de mais dificuldades, o perigo de tentações de medidas extremadas,
ao arrepio do nosso modo de vida, mas que podem ser facilmente incutidas em
populações sedentas de justiça e de níveis de segurança razoáveis. O perigo da
fuga em frente descontrolada, populista e, a final, estéril. Temos de ser, Sr
Presidente CMP e Srª Presidente AMP, eficazes e pragmáticos, mas também lúcidos
e inteligentes.
Estas são algumas das
situações que terão de ser encaradas por seja qual for o executivo que saia das
eleições autárquicas deste ano. Seja qual for a equipa que assumir o Município
da Capital, ela terá de tomar sobre os ombros a tarefa ingente de trabalhar a
questão ecológica; a questão do acesso à habitação de qualidade; a questão dos
transportes; a distribuição da água potável; a cooperação na luta contra a
insegurança; a continuação do programa de drenagem das águas pluviais; a
higiene e a segurança dos mercados.
Caros amigos,
Caros munícipes,
A magnitude dos
problemas e os desafios de um desenvolvimento inclusivo e sustentável exigem um
novo olhar sobre a Capital do país.
Tudo indica que neste
concelho se iniciou e se consolida, espero que definitivamente, um processo que
visa romper com a visão limitada, acanhada, provinciana mesmo, da Praia, e
concebê-la como um centro cosmopolita, que, em diversos campos, se assume como
referência para a ilha e com inevitáveis reflexos no resto país.
Não terá chegado a
hora de ponderar uma acção mais integrada de planeamento envolvendo os três
municípios da região do sul de Santiago? Ponderar a possibilidade de uma Praia
integrada num espaço maior, que, se fragmentado, perde em escala e em
oportunidades? Estou a pensar na Grande Praia, um espaço metropolitano que
integre os Municípios da Praia, da Ribeira Grande de Santiago e de São
Domingos.
Foram consentidos
enormes sacrifícios para a elaboração dos Planos Directores desses três
Municípios do Sul de Santiago, mas é imperativo que se faça um esforço a mais,
no sentido da integração desses planos directores (PDM), de forma a se chegar a
um Plano Director (PDR) da Grande Praia. Um plano que não será um somatório dos
PDMs de cada um dos municípios, mas antes um plano capaz de dar corpo ao sonho
visionário de uma próspera região metropolitana – uma região que aposte na
coerência, na economia de escala, em sistemas integrados de transportes e rede
viária e em redes de cobertura em matéria de ambiente, saneamento, saúde
pública, educação e protecção social.
Pensamos numa unidade
de planeamento que vá de Gouveia a São Francisco; de Cambudjano a Caiumbra; da
Cidade Velha à Praia-Baixo; de Rui Vaz à Ponta Temerosa, e que possa
transformar esta região natural em um grande pólo de desenvolvimento, capaz de
contagiar outras iniciativas de integração.
Isto significa dizer,
portanto, que um conjunto complexo de questões, que devidamente trabalhadas
garantem acesso amplo e democrático ao espaço territorial e social, de forma
inclusiva e ambientadamente sustentável, deveriam merecer, neste quadro que se
sugere, a intervenção muito bem pensada dos três municípios; e que, se os
municípios da região se puserem a actuar de maneira isolada, correm o risco de
adiarem ou comprometerem de vez a resolução dos problemas.
O caminho deve ser,
pois o da manutenção do ritmo de crescimento e da qualidade de vida que aqui se
oferece, ao mesmo tempo que se devem levar a cabo medidas tendentes a promover
o crescimento e a qualidade de vida no resto da ilha de Santiago e noutras ilhas,
de modo a estancar a hemorragia da força de trabalho dessas regiões e evitar o
sobrepovoamento da Região Sul de Santiago. Necessário se faz, pois, um conjunto
concatenado de medidas de política que, a um tempo, fixam as pessoas nas suas
ribeiras, mercê da alteração, positiva, das condições de trabalho e de
sobrevivência, e libertam a Grande Praia de uma pressão indesejável sobre os
frágeis equilíbrios ambientais, o saturado mercado de trabalho e as reduzidas
forças de segurança e ordem públicas.
Se em 2012 - que
poderá se transformar no ano das grandes decisões em termos de Descentralização
– começarem os debates acerca da integração dos municípios da região Sul de
Santiago em direcção à definição de um PDR integrador e à instalação de uma
estrutura de gestão da Área Metropolitana da Grande Praia, teremos dado um
passo de gigante no sentido do aprofundamento do municipalismo e da
regionalização administrativa.
Minhas Senhoras e
meus Senhores,
O Concelho da Praia,
para além da preocupação com os rumos que o poder local pode tomar no seu
espaço, tem condições de proporcionar um debate numa perspectiva mais ampla que
abarque do futuro da organização do poder local em Cabo Verde.
Trata-se do concelho
mais populoso do país, situado na ilha mais populosa e com maior número de
municípios. Pela sua complexidade e dimensão, pela sua proximidade com outros
municípios e com o poder central, havendo vontade política de debater e testar,
o concelho da Praia poderá ser interessante cenário para a realização de experiências-piloto
com o objectivo de aferir a viabilidade de determinadas opções.
Pelas suas
características, não obstante a existência de fortes tendências
centralizadoras, a Praia pode favorecer esse debate que deverá ter por pano de
fundo a descentralização enquanto instrumento de racionalização da utilização
dos recursos disponíveis e da redução das desigualdades sociais e das
assimetrias regionais bem como do aumento da participação política das pessoas,
vale dizer a extensão e o aprofundamento da «cidadania democrática».
Minhas senhoras e
meus senhores,
Ao albergar cerca de
um quarto da população de Cabo Verde, de sediar os diferentes órgãos de
soberania e a grande maioria das mais importantes empresas nacionais, a Capital
do país assume obrigações que a distinguem dos demais centros urbanos do país,
justificando-se plenamente a criação de um estatuto específico para ela.
Existe, parece, um
claro consenso sobre a necessidade de se dotar a capital de um estatuto próprio
que tenha como objectivo dotá-la de condições para assumir de modo adequado a
condição de Capital da Republica de Cabo Verde.
Como referimos em
outra ocasião, não obstante a criação do estatuto da capital ser uma atribuição
da Assembleia Nacional e, tendo em conta que parece existir um consenso entre
as forças políticas com assento parlamentar no sentido da sua criação,
reiteramos a nossa disponibilidade para, junto aos partidos políticos,
dinamizar o processo para que chegue a um final rápido e feliz.
Senhor Presidente
CMP,
Srª. Presidente AMP,
Srs. Eleitos
municipais,
Caros amigos,
Entendo as visitas de
contacto como momentos para cumprimentos e aplausos em relação ao bom trabalho
feito, de exigência em relação ao que ficou por fazer e de votos para que tudo
corra de feição no ano que começa e para dizer às pessoas que se devem assumir
como sujeitos na relação com os poderes e como parte da solução dos problemas.
Que os mais velhos
precisam emprestar a sua experiência para que se evite a repetição de erros
cometidos no passado; que os jovens devem apostar o seu frescor e a sua
irreverência, na rotura em relação a velhos paradigmas, e a sua força, fé e
determinação no futuro para a instalação de uma nova forma de viver o município
e de se relacionar muito com as autoridades.
Que ninguém deve
abdicar do seu direito de participação ou deixar se substituir pelo querer dos
poderes. Pode acontecer, por vezes, conflitos de interesse, mas em democracia
estes conflitos devem ser vividos e solucionados num quadro em que domine o
sentido de responsabilidade.
Que os poderes devem
garantir o máximo de participação dos cidadãos no equacionamento e na resolução
dos problemas das comunidades. O que se faz pelas comunidades sem as
comunidades pode, amiúde, ser contra elas.
Que nenhum poder caia
na tentação de substituir as vozes das comunidades. Por vezes, as expectativas,
de um lado e de outro, podem ser divergentes.
Enfim, que o
Município da Praia e os municípios vizinhos precisam pôr o essencial dos seus
recursos e esforços na melhoria das condições de vida das suas gentes; assumir
a questão ambiental como uma questão prioritária; encarar o crescimento como a
única saída possível para a redução do desemprego; a integração como uma
dinâmica de grupo; e a solidariedade em relação aos demais espaços nacionais,
como uma estratégia de reduzir a pressão sobre as suas fragilidades e
vulnerabilidades. O PR oferece-se para ajudar no que estiver ao seu alcance,
nos estritos limites dos poderes que a Constituição lhe confere.
Juntos temos que ser
capazes de localizar os problemas, enumerar suas causas e diagnosticar os
remédios. Urge, agora, encontrar as forças para pensar um planeamento menos
centralizado e mais unitário, e necessariamente mais social e mais humano.
Agradeço as amáveis,
e generosas palavras que me foram dirigidas po V.E. e manifesto a minha
profunda convicção de que, no final da visita de três dias que ora se inicia,
através dos contactos que manterei com os munícipes, com os responsáveis
municipais, com as forças vivas e com a juventude, estarei em muito melhores
condições para continuar a apoiar o desenvolvimento do concelho no quadro dos
poderes que a Constituição me confere, para que o concelho da Praia e a Cidade
de Praia Maria sejam cada mais o rosto do Cabo Verde democrático, desenvolvido,
solidário, plural e feliz que nós todos queremos construir.
Desejo um futuro de
paz e de bem-estar para todos munícipes.
Muito obrigado.
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