Senhores Chefes de Estado, Excelências
Senhores Membros de Governos, Excelências
Senhores representantes das organizações da Sociedade
Civil, Excelências
Permitam-me iniciar com uma palavra de
apreço e agradecimento à Senhora Presidente Dilma Roussef e às autoridades
brasileiras pela abnegada dedicação com que abraçaram o desafio de acolher a
Cimeira RIO + 20 e pela excelente colaboração havida com o Presidente da
República e o Governo de Cabo Verde nos preparativos para nossa participação
nesta Cimeira histórica, evento que se situa ao nível da dimensão política,
económica e humana desta grande Nação brasileira.
Duas décadas após o Rio-92, ocasião em que
tive o privilégio de, na qualidade de Ministro dos Negócios Estrangeiros,
integrar a Delegação de Cabo Verde, não posso deixar de manifestar a minha viva
emoção por estar, mais uma vez, na linda e acolhedora cidade do Rio de Janeiro,
fortemente implicado no debate de uma questão tão crucial para, juntos,
avaliarmos o caminho percorrido, identificar os desafios que subsistem e propor
soluções que assegurem uma vida mais saudável num ambiente mais protegido.
Cabo Verde, um pequeno estado insular,
situado na região do Sahel, com limitados recursos naturais e extremamente
vulnerável aos desequilíbrios ambientais, não podia deixar de estar atento à
evolução das políticas globais que tenham em vista a estabilidade ecológica do
país e a deste mundo cada vez mais confrontado com desafios e ameaças comuns,
designadamente os provenientes das mudanças climáticas.
O país tem, ao longo dos anos, adoptado
medidas que têm em vista o equilíbrio ambiental e a defesa da biodiversidade.
Apesar das grandes limitações financeiras podemos salientar a luta contra a
desertificação, a protecção das espécies em extinção e o aproveitamento das
potencialidades da produção de energia limpa, domínio no qual se prevê, segundo
as entidades competentes, atingir a meta de país 100% renovável até ao ano de
2020, pela via de um fundo de investimento e do fomento de parcerias
público-privadas.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Queremos lembrar que a crise ambiental
mundial que se vive hoje está profundamente ligada a opções de vida e de
desenvolvimento que nem sempre levam em conta as grandes questões ambientais e
têm hipotecado o futuro, em benefício do aqui e agora.
Igualmente sabemos que, em decorrência de
estados de desenvolvimento diferenciados e de variadas inserções geográficas,
as consequências dos desequilíbrios ambientais são diferentes conforme os
países e as regiões, realidade que tem condicionado a adopção de medidas
universais.
Neste contexto, a situação dos Estados
Insulares que têm vulnerabilidades particulares estão confrontados com
situações, algumas vezes no limite da sobrevivência, devendo, por isso, merecer
atenção muito particular. Para os pequenos estados insulares em desenvolvimento
que sofrem já da seca e da desertificação, dos tufões e furacões, da elevação
do nível do mar e da sua acidificação, o desenvolvimento sustentável e a
economia verde almejados ficam ainda condicionados à diminuição drástica dos
gases com efeito de estufa. Sem um esforço importante e ambicioso nesse domínio
as nossas perspectivas ficarão sombrias e longínquas.
Para superar os desafios da multifacetada
“questão ambiental” temos que ser ousados nos debates e nas acções e enfrentar,
de modo efectivo, os impactos dos padrões actuais de produção e consumo, e,
igualmente, o da escassez de recursos e do aprofundamento da desigualdade no
mundo.
Neste sentido, reconhecemos os esforços
consentidos por todos na negociação do documento final, que expressa um
conjunto ambicioso de princípios e objectivos, bem como um quadro de referência
para o desenvolvimento sustentável. Entretanto, chamamos a atenção para o facto
deste documento, perante os enormes e prementes desafios que enfrenta a
humanidade hoje, se revelar ainda aquém do desejável, especialmente em termos
de identificação clara dos mecanismos de efectivação dos referidos objectivos.
Não se pode duvidar que a concretização
das perspectivas do desenvolvimento sustentável exige renúncias e reclama recursos
e nem ignorar que os países se encontram em situação diferente relativamente à
conciliação das possibilidades de desenvolvimento com as responsabilidades
ambientais. Daí a necessidade da disponibilização de recursos suficientes e
previsíveis para que os compromissos sejam viabilizados.
É imperioso que medidas concretas sejam
adoptadas com vista ao desenvolvimento, aprofundamento e concretização do
conceito de economia verde que assegure o desenvolvimento
económico em harmonia com a natureza e que compromissos sólidos sejam
construídos de modo a reduzir o aquecimento global.
Este momento de intensa discussão
sobre o padrão de desenvolvimento que queremos – que conta com uma participação
extremamente relevante não só dos organismos oficiais como da sociedade civil -
constitui a certeza de que, por meio de processos educativos, do
exercício da cidadania, da revisão dos instrumentos de Estado e dos
mecanismos de democratização da sociedade, podemos progredir na
construção de uma cultura verdadeiramente voltada para a sustentabilidade
planetária.
Rio+20 poderá
representar, neste difícil contexto de crise, uma nova etapa no itinerário de
uma comunidade mundial emergente e uma oportunidade para que os povos e
cidadãos do planeta, conscientes de um destino comum, encontrem ampla
convergência através de um diálogo real, firmando, no entanto, as suas
identidades locais, regionais e nacionais.
Importa que a partir desta Conferência
sejam adoptados novos modelos de governação baseados no progresso social, no
desenvolvimento económico e na sustentabilidade ambiental e sejam definidos,
concretamente, os meios de efectivação de medidas que honrem os compromissos
assumidos por cada um de nós, representantes dos Estados aqui presentes.
Termino, renovando os meus profundos
agradecimentos à Senhora Presidente Dilma Roussef e às autoridades brasileiras,
pelo caloroso acolhimento que nos foi reservado, a mim e à delegação que me
acompanha, na cidade maravilhosa deste país brasileiro de grandes nomes como
Pelé, João cabral de Melo Neto, Tom Jobim, Cândido Portinari, Oscar Niemeyer e
Milton Santos.
Muito obrigado.
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