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Exmo. Senhor Secretário Geral da UCCLA,
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa,
Exma. Senhora Presidente da Assembleia Municipal,
Exmos. Senhores Chefes de Missão e Representantes do Corpo
Diplomático,
Exmos. Professores e alunos das Escolas SOS e Capelinha,
Exmos. Senhores jornalistas
Exmas. Senhoras, Exmos. Senhores,
Ilustres convidados e prezados amigos,
Diferentes vectores conjugam-se para termos o mundo que
temos hoje. Ele resulta da trajectória que a humanidade foi realizando ao longo
da sua caminhada no planeta desde o momento em que, alicerçados na cultura, os
homens foram-se libertando e se autonomizando em relação à natureza e que nas
últimas décadas assumiu intensidade quase ilimitada.
Com uma
população de sete biliões de pessoas que têm de se alimentar, vestir, morar, e
de responder a outras necessidades, os bens de que se dispõe no mundo mostram-se
aparentemente escassos, a pressão sobre eles insustentável e a ideia de que é
necessário racionalizar passa a assumir uma natureza quase axiomática.
Mas infelizmente
a racionalização pretendida é colocada apenas ao nível do acesso aos produtos
finais. Os diferentes processos relacionados com todas as actividades a
montante são ignorados. Isto é, os pressupostos que enformam os sistemas
produtivo e distributivo são deixados de lado, as formas de vida de
determinadas sociedades e que estão directamente relacionadas com as pressões
sobre os bens de primeira necessidade não parecem ser tidos na devida conta.
As grandes
desigualdades sociais e regionais não são valorizadas enquanto elemento chave
da complexa realidade. Com frequência se verifica que os recursos disponíveis
não são suficientes para satisfazer as necessidades de uma população que não
cessa de crescer nas regiões mais pobres enquanto estagna e envelhece em boa
parte das mais ricas.
Não se pode
negar a necessidade de conciliar o crescimento da população com a
disponibilidade de bens necessários a uma vida aceitável. Aliás, quando recentemente
a Organização das Nações Unidas decidiu assinalar o facto de ser ter atingido a
cifra de sete biliões de habitantes, enfatizou-se a necessidade de se adequar o
crescimento da população aos meios disponíveis, mas igualmente insistiu-se na
necessidade de se garantir o acesso de todos a todos os bens.
Minhas senhoras
e meus senhores,
Se, como se
referiu, é necessário adequar a dinâmica populacional aos meios disponíveis, é
fundamental uma reflexão muito mais abrangente sobretudo no que toca à adopção
de políticas que atentem para a necessidade de estruturar sistemas produtivos,
menos predatórios, menos poluidores, que não elejam o lucro em fim supremo, em
objectivo absoluto.
Não é possível
ignorar que a crise que hoje vivemos no mundo global é também global em termos
geográficos e em termos de conteúdo. Ela é económica e fumaceira, ela é política
(pois tem recolocado sistematicamente em causa o conceito de soberania) e ela é
ambiental.
O facto de
enumerarmos estas vertentes não significa que as consideramos três aspectos
sobrepostos. Pelo contrário, não obstante a autonomia de cada um, acreditamos
que estão interligados e que um esforço deve ser feito no sentido de se
entender a dinâmica da sua interacção.
Minhas senhoras
e meus senhores,
Esta é a única
perspectiva que deverá permitir que se encontrem soluções também globais, pois,
como há muito se sabe, tanto a salvação como a perdição definitivas nunca serão
parciais.
Por exemplo é
absolutamente inaceitável que as regiões africanas por exemplo que menos poluem
sejam as que mais sofrem com determinados desequilíbrios ambientais, causados
em grande parte pela poluição, por sistemas de produção altamente predatórios.
Hoje os
estudiosos afirmam que, com os avanços tecnológicos existentes, é possível a
produção de bens e serviços que podem satisfazer as necessidades de todos os
seres humanos sem agredir o ambiente.
No fundo, em
matéria de produção e distribuição da riqueza, trata-se de ter todas as pessoas
de todos os continentes no centro das preocupações. As actividades produtivas e
as políticas devem tê-las como a medida de todas as coisas.
Recentemente,
numa mensagem que enderecei a um fórum dedicado ao combate a embalagens de
plástico dizia:
“COMO VAI FICANDO CADA VEZ MAS CLARO, TODOS NUMA CERTA MEDIDA
TRANSFORMAMO-NOS EM SERES GLOBALIZADOS. SEM SE PRETENDER REFERENDAR AS TESE DO
PENSAMENTO ÚNICO, DA HOMOGENEIZAÇÃO CULTURAL E DO FIM DA HISTÓRIA, NÃO HÁ COMO
NEGAR QUE, PARA O BEM E PARA O MAL, GRANDE PARTE DA NOSSA CONDUTA TENDE A SER
DETERMINADA OU PELO MENOS CONDICIONADA, POR FACTORES GLOBAIS EM GRANDE PARTE
EXTERNOS.”
Acredito que num
país como o nosso com impressionantes vulnerabilidades relacionadas com a seca,
com a desertificação, com a subida dos níveis do mar, com a pressão sobre o
ambiente (a questão dos inertes, dos combustíveis, entre outros, são exemplos
paradigmáticos), temos, na linha do que se disse acima, “pensar global e agir
local”.
Para isso é forçoso
lançarmos mão de um instrumento de valor inestimável que é a educação. Apenas
ela poderá nos salvar. Apenas ela poderá permitir-nos os instrumentos que nos
ajudam a entender e interpretar o mundo em que nos encontramos, para
transformá-lo, para preservá-lo, para humanizá-lo, para que nos situarmos e
agirmos numa perspectiva humanista.
Ao investir em
plena crise numa estrutura de educação ambiental, a Câmara Municipal da Praia
proporciona uma sábia lição do que é fundamental e do que é supérfluo. Este é o
ponto de vista que devemos acarinhar e erigir como decisivo.
A CMP evidencia
que a consciência das nossas vulnerabilidades ambientais assume importância tão
gritante quanto as decorrentes do desemprego e suas consequências sociais.
A mensagem é
clara: temos de iniciar de imediato a responder de forma integrada aos nossos
graves problemas ambientais e para que essa resposta seja de facto adequada ela
tem de ter na educação uma componente determinante, estratégica, diria. ´
É claro que o
aspecto educativo não é o único a ter em conta. São também necessárias medidas
de fundo, medidas de política que assegurem a defesa do ambiente ou que, ao
menos, coíbam a sua sistemática agressão por razões económicas, por ignorância
ou outra.
Se essas são
fundamentais para que a edução tenha sentido e atinja os fins preconizados, e por
isso reforçam a perspectiva educativa, não é menos verdade que uma reactiva
autonomia da educação permitirá que os cidadãos exerçam o indispensável
controlo e pressão sobre o Estado e os agentes económicos para que os discursos
e as práticas coincidam.
O facto de
associar a defesa ambiental às energias renováveis é um aspecto que merece ser
sublinhado, pois sabemos que, por um lado, existe uma relação muito estreita
entre as necessidades energéticas e os desequilíbrios ambientais e, por outro,
as nossas potencialidades em matéria de energias renováveis são muito
importantes.
Minhas Senhoras
e meus senhores,
Gostaria de
destacar um outro elemento que considero de elevada importância que é o facto
deste projecto prever uma relação de grande dinamismo com a sociedade praiense.
Isto é, para além de disponibilizar uma estrutura de educação ambiental,
prevê-se a deslocação aos bairros através de uma vertente móvel.
Com isso
procura-se alguma descentralização, almeja-se atingir os que menos
possibilidades têm em se dirigir ao centro do Parque Cinco de Julho e que,
muitas vezes, são os que mais precisam de contribuições para poderem entender o
seu meio e agir de forma mais consentânea com os seus interesses.
Agradeço os
amáveis cumprimentos que me foram dirigidos, felicito vivamente a Câmara
Municipal da Praia e, a escassos meses da realização da importante cimeira Rio +20,
desejo num futuro próximo que este excelente exemplo pioneiro seja seguido por
todas outras Câmaras da nossa Terra.
Muito Obrigado.
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