Veja as Fotos |
Excelentíssimo
Senhor Presidente da CM de São Domingos,
Excelentíssimo Senhor Presidente da
Assembleia Municipal,
Excelentíssimos Senhores Eleitos
Municipais,
Caros Munícipes,
Minhas senhoras,
Meus Senhores,
Caros Amigos,
Começo por agradecer as muito amáveis
referências feitas à minha pessoa. Elas constituem um estímulo para a
assumpção, o mais cabal possível, das prerrogativas e obrigações do cargo para
que fui eleito há cerca de cinco meses.
Mas as palavras seguintes vão para
quantos, neste concelho, lutam para fazer deste aprazível pedaço de Cabo Verde
um recanto onde se possa viver com dignidade.
Nos dias que correm, mormente em um
concelho, como o de São Domingos, o desafio primeiro é conseguir extrair da
terra o sustento de cada dia, sem, contudo, comprometer o futuro do habitat que será a herança das gerações
vindouras.
A preservação do ambiente e a
salvaguarda deste habitat para as
gerações vindouras, mais do que um desafio a vencer, deve ser encarada como uma
estratégia de desenvolvimento. Recantos aprazíveis como Rui Vaz, Água de Gato,
Lém Pereira, João Garrido, Tenda e Colégio, Banana e Caiumbra, Milho Branco,
Praia Formosa e Praia Baixo, constituem vantagens comparativas que importará
transformar em posições de competitividade.
A recuperação das bacias hidrográficas,
a conservação das encostas e o tratamento das praias deste concelho, devem ser
encaradas como investimentos capazes de dar frutos tão interessantes como a
criação de postos de trabalho, a subsistência alimentar, a atracção de turistas
e, não menos importante, um ambiente saudável como legado para as gerações
vindouras.
Insisto na preservação do ambiente e no
legado às gerações vindouras, por me parecerem ser factores críticos deste
singelo recanto.
Codé di Dona cantou que depois dos
irmãos Soares de Carvalho, em São Domingos só ficaram «‘nbatxi ku boka ratu».
Esta composição do nosso senhor do
funáná não conseguiu vislumbrar a força que é a juventude da freguesia de São
Nicolau Tolentino, hoje com mais oportunidades, cada vez menos rural e mais
urbano.
Faltou vislumbrar nos «meninos de Anu Nobo» a pujança cultural
que contém no seu bojo a capacidade de elevar a auto-estima e de estimular a
produção e a competitividade.
Finalmente, não conseguiu captar a força
que são os muitos e bons jovens quadros deste concelho, principalmente, aqui na
freguesia de ‘Ntoni e Nhonhozinho Soares, Joaquim Lima, vulgo Mulongo, e tantos
outros. E Nhô ‘Ntoni Denti Di Oro ainda aqui está, com muito para passar aos
mais jovens.
Esta juventude, o velho Denti D’Oro,
estes artistas, artesãos, músicos, poetas e outros fazedores de cultura, estes
quadros, esta gente trabalhadora, são flores e frutos, espigas das boas, bem
capazes de honrar a memória dos que os antecederam e a quem sigo pedindo que
não esgotem o habitat e deixem aos
mais jovens um São Domingos saudável, com suas tradições intactas, sua
morabeza, sua beleza.
Quando falo de Anu Nobo, de Denti D’Oro,
dos irmãos Soares, de Mulongo, não posso esquecer-me de nomes como Nhô Paxinho
(Augusto Tavares Cabral), dos professores Môxo Ribeiro e Caetano Barros, de
proprietários como Nhô Fifi Ferreira, Joãozinho Ferreira, Txani Fonseca e de
tantos outros, afinal os avós, pais e tios desta geração de ouro de S.
Domingos. Gente que viveu a sua época, investiu o que tinha e o que não tinha
na educação dos filhos, deixando o concelho muito bem servido. Minha homenagem
à geração que soube interpretar o seu tempo, descobrindo que a melhor herança a
deixar à prole é a EDUCAÇÃO e um AMBIENTE SAUDÁVEL.
Vocês, jovens de São Domingos, tiveram
essa sorte. E é por isso que não me canso de vos incentivar a preservarem este
espaço, a modos de poder passá-lo, ainda aprazível e produtivo, à geração
vindoura. E nem será muito difícil consegui-lo. Basta que se esforcem por dar
aos vossos filhos um pouco mais do que receberam de vossos pais. Por esse
caminho, o céu é o limite.
Senhor Presidente,
O hoje e o amanhã de S. Domingos serão
tanto mais próximos dos vossos sonhos, quando administrados e administração se
encontrarem mais próximos, tenham uma grande plataforma de entendimento e
estabeleçam, entre si, uma relação de provedor e cliente, no melhor sentido dos
termos.
Quanto mais os serviços possam ser
providos por um ente mais próximo dos utentes, melhor será a comunhão e o
entendimento entre administrados e administração, maior será a responsabilidade
destes últimos, os objectivos e as metas serão mais consensuais, a preservação
dos necessários equilibrios ambientais tornar-se-á uma preocupação comum e,
obviamente, o crescimento e o desenvolvimento sustentados ficarão cada vez mais
ao alcance da população.
Diante disso, a aproximar as decisões
das populações aparece como um imperativo no quadro do processo de reforma e
modernização do Estado. Por isso, quando vos peço para fazer com que este
município cresça, prospere e se desenvolva, quando faço apelo no sentido de
manterem o município aprazível e intacto para as gerações vindouras, estou, ao
mesmo tempo a chamar a atenção dos poderes para a necessidade de mais um passo,
mais uma vaga (se me for permitido usar o termo), de descentralização.
Para que Santiago possa planear o seu
desenvolvimento como um todo, no que for do interesse de toda a ilha; para que
São Domingos possa equacionar e resolver, localmente, os problemas que o
afectam e as transformações sociais que se impuserem; para que São Nicolau
Tolentino e Nossa Senhora da Luz (as duas freguesias do concelho) possam tratar
localmente as demandas da população das freguesias, de forma a que a sua
resolução fique a cargo de quem melhor conheça cada uma das freguesias e suas
gentes.
Enfim, as propostas que devem ser postas
em cima da mesa, no debate da descentralização, deverão ser sempre no sentido
da deslocação das decisões para onde possam ser mais céleres e, sobretudo, mais
eficazes e mais efectivas.
Uma nova relação de poder deverá ser
estabelecida e uma maior participação do município nos recursos do Estado terá
de ter lugar. Se será exagerado esperar que, para os municípios, passe a ser
canalizado perto de 70% dos recursos do Estado, é imperioso que os actuais 10%
sejam claramente ultrapassados.
Apenas dessa forma será possível fazer
face ao desemprego no município que, ultrapassando-se a cifra de 400 chefes de
família que a Câmara consegue empregar e atender os restantes 1200 que ficam de
fora, bem como atender com mais eficiência os alunos que necessitam de
transporte escolar.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Salta à vista que o futuro e
o desenvolvimento desta região Sul da Ilha de Santiago não podem ser pensados
de forma fraccionada. A complementaridade existente entre S. Domingos, Praia e
Ribeira Grande de Santiago clama por uma maior concertação quando a questão é o
planeamento do desenvolvimento.
Mantendo um PDM que equacione
o território que vem do Norte e vai até Ribeirão Chiqueiro; outro que pense o
território que vem do Litoral Oeste e vai até S. Martinho Pequeno; e planear um
terceiro que fique encravado entre os dois primeiros e o Atlântico; fica-se com
uma visão fraccionada da região e corre-se o risco de perder de vista tanto a
complementaridade como as sinergias dela advenientes. E seria uma grande pena,
um desnecessário desperdício de energias, de meios e de tempo.
Por isso, apelo aos
munícipes e às lideranças dos três municípios da região para trabalharem no
sentido da realização da Região
Metropolitana da Grande Praia, uma unidade de planeamento com
potencialidades para estimular o que de melhor há em cada um dos municípios do
território abrangido.
Minhas senhoras, meus
senhores,
Não poderia deixar de, nesta ocasião,
lançar o repto para que devida atenção seja dada ao combate da violência neste
município, tendo em conta justamente a sua localização.
Na confluência entre o rural e o urbano,
nesta ilha de Santiago, vanguardista em boas práticas e em comportamentos importados,
algumas vezes anti-sociais, todos, munícipes e autoridades, colocam-se perante
um grande desafio que é o de prevenir e combater a violência e a criminalidade
patentes nos grandes centros urbanos, já em níveis deveras preocupantes.
Têm, aqui em São Domingos, ainda a
oportunidade de se defenderem contra tal onda de violência e criminalidade,
tirando lições dos erros cometidos noutros cantos do nosso país, com a expansão
não controlada da urbanização.
Minhas senhoras, meus
senhores,
Não me alongo mais. O
objectivo desta visita é, essencialmente, ouvir, escutar as vossas preocupações
e deixar-vos uma palavra de encorajamento neste momento crucial da história da
humanidade, em que o Mundo se vê a braços com uma crise com uma dimensão nunca
dantes vista.
Os chineses grafam a palavra
crise com recurso a dois símbolos que significam, respectivamente, AMEAÇA e
OPORTUNIDADE. Existe uma ameaça séria, mas surgem oportunidades excepcionais. A
melhor opção é, pois, trabalhar para que as ameaças não passem disso mesmo e
para o aproveitamento pleno das oportunidades que surgirem.
Se conseguirem manter o
vosso município aprazível, produtivo e intacto, para ser utilizado pelos vossos
filhos e netos; se continuarem, à semelhança dos vossos ancestrais, a apostar
forte na educação e formação dos vossos filhos; se não deixarem cair a tradição
do artesanato e da fruticultura; se trabalharem, com denodo e criatividade,
para a criação de condições para um segmento de turismo com carácter especial,
então terão feito a vossa parte.
Aqui deixo registados os
meus votos de sucessos na empreitada que é viver, crescer e se desenvolver, sem
comprometer o meio ambiente e o futuro das gerações vindouras.
Muito Obrigado.
Sem comentários:
Enviar um comentário