Os
cabo-verdianos construíram a sua identidade ao longo de séculos de luta
permanente contra as adversidades da natureza, contra a incúria dos poderes
coloniais, remando sempre contra a maré e contra os ventos poderosos da desdita
e do esquecimento.
A
Cultura, a nossa segunda natureza, contém essa difícil relação com um meio,
muito difícil, por vezes hostil, mas, igualmente, com a nossa capacidade de
criar, de engendrar o Belo, na música, na poesia, na dança, na ficção, nas
artes cénicas, nas artes plásticas, num processo claro de humanização.
A
nossa língua, o nosso modo de ser, a nossa forma de amar, de criar, a nossa
Cultura, consubstanciam, são, pode dizer-se, nossa Pátria. Os seus alicerces
são o nosso chão, as nossas ilhas. Mas a Cultura as transcendeu, dando à Pátria
uma dimensão quase infinita, ultrapassando a limitação física, engendrando uma
mesma alma em seres que nunca pisaram o solo que a originou.
Assim,
continuamos a ser nós, a principal riqueza de Cabo Verde, nós, mulheres e
homens deste querido torrão - ainda que nem sempre tenhamos o nosso umbigo nele
enterrado -, com a nossa marca singular.