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Excelentíssima Senhora Presidente da Câmara Municipal de Porto
Novo,
Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia Municipal,
Excelentíssimos Senhores Deputados da Nação,
Excelentíssimo senhor Chefe da Casa Civil da Presidência
da República,
Excelentíssimo Senhores Presidentes das Câmaras
Municipais do Paúl e Ribeira Grande,
Excelentíssimos Senhores Representantes das Bancadas
Municipais do PAICV e do MPD,
Excelentíssimos Senhores Eleitos Municipais,
Excelentíssimos senhores Colaboradores da Presidência da
República,
Excelentíssimos profissionais da comunicação social,
Minhas senhoras e meus Senhores,
Caros Munícipes,
Ano e meio após a primeira visita oficial ao Município de
Porto Novo, é com um sentimento de profunda satisfação que regresso à majestosa
ilha de Santo Antão, a partir de um honroso convite da Presidente da Câmara
Municipal, Eng.ª Rosa Rocha. Com muito gosto aceitei estar hoje nesta sessão
solene enquadrada nas festividades comemorativas do dia do município.
Estar neste lugar para participar das festas do dia do
município de Porto Novo e para comemorar com a sua gente é para mim motivo de alegria,
de prazer, mas igualmente uma forma de saudação, da Nação, a este torrão tão
diligente do nosso país, cuja força está plasmada em seus picos singulares,
como o “tope de Coroa”, e em suas lindas paisagens de fundos contrastes, entre verdes
e densos e áridas mas sedutoras vistas.
De início, não posso deixar de destacar a moderna,
acolhedora e funcional porta de entrada do Concelho, que é a Gare Marítima que,
a par de outras realizações, valorizou, sobremaneira, este importante porto do
Concelho e de Santo Antão. Começo por felicitar Porto Novo por esta magnífica
infra-estrutura e enaltecer, de modo particular, o Governo por tão importante
obra, que serve a ilha e dignifica as pessoas que, no dia-a-dia, atravessam o
Canal, no mais intenso fluxo de pessoas do país.
Caros amigos,
Todas as vezes que me desloco a qualquer ponto do país
acontece algo que marca essa passagem. Por vezes acontecimentos simples, uma
frase, um gesto; outras vezes, essa marca vem de algo mais importante e
elaborado, um discurso, uma declaração, uma reunião.
Assim, identifico as visitas efectuadas a todos os
municípios do país, também, por esses episódios que, marcam as deslocações e
deixam sentimentos e percepções que, frequentemente, partilho com os meus
colaboradores. Ao receber o amável convite para visitar este portentoso
concelho não foi difícil identificar o acontecimento que se transformou no
símbolo da minha primeira e memorável visita a este concelho.
Posso afirmar que essa deslocação marcou-me de forma
muito particular. Primeiramente por ter-se iniciado em São Vicente, pois foi nessa
ilha que me encontrei com o então Presidente da Câmara, pois a primeira
localidade a ser visitada, Monte Trigo, era, e é, mais facilmente acessível a
partir dessa ilha; depois, pelo facto de ter tido oportunidade de contactar de
muito perto as realidades do concelho, contacto que, seguramente, será
aprofundado nesta ocasião.
Mas o que me marcou, creio que indelevelmente, nem foi a
afirmação segundo a qual em vinte anos era o primeiro alto responsável a pisar
aquele chão, aquele onde o ilustre Manuel Lopes – de quem justamente se diz
constituir «um dos mais importantes pilares da edificação de uma rota da
caboverdianidade» (Jorge Couto, in «Rotas da vida e da escrita») passava as
férias na infância. Fiquei profundamente tocado com a recepção que me foi
reservada. Mal saltei da lancha que do barco me levou à praia, fui surpreendido
por um grupo de crianças de uniforme azul, da cor do nosso mar profundo,
entoando o Hino Nacional.
Aliás, devo confessar que um dos momentos que mais
aprecio nas visitas que efectuo aos concelhos é essa prática, muito saudável,
de se entoar o Hino Nacional. Mas, em Monte Trigo pelo inesperado da situação,
pelo ardor que as crianças emprestavam às palavras, pela seriedade extrema com
que os professores encaravam aquele momento, experimentei um particular misto
de solenidade e simplicidade.
Ao regressar a este Concelho não tinha como deixar de
evocar essa experiência tão marcante.
Minhas Senhoras e meus senhores,
Como referi acima, a primeira visita permitiu-me apreciar
boa parte das potencialidades e constrangimentos deste concelho.
Ao primeiro contacto deparei-me com a uma realidade muito
especial. Os grandes problemas energéticos de Monte Trigo estavam em vias de
serem resolvidos e numa perspectiva prenhe de potencialidades.
De uma disponibilidade de cinco horas de energia
eléctrica diária, passava-se a poder contar com esse importante bem durante
vinte e quatro horas, e, o que era ainda assinalável, é que essa mudança se devia
ao aproveitamento de uma fonte praticamente inesgotável, a energia solar, num
projecto que juntava a União Europeia e a edilidade de Porto Novo.
Quando sabemos que um dos factores essenciais para o
processo de desenvolvimento é o energético e damo-nos conta das grandes
potencialidades do concelho e da ilha em matéria de energias alternativas, não
obstante os avultados investimentos que o seu aproveitamento ainda exigem,
somos obrigados a insistir na necessidade de se definirem políticas que, a
prazo, assegurem o aproveitamento dessa potencialidade que, como sabemos, não
compromete o nosso precário equilíbrio ecológico.
Caros amigos,
O trajecto entre Monte Trigo e a cidade do Porto Novo permitiu-me
uma perspectiva, que creio objectiva e ilustrativa, de aspectos relevantes do
Porto Novo. Ressalte-se, em primeiro lugar, a grande dispersão populacional que,
naturalmente, levanta a complexa questão da disponibilização dos serviços
essenciais.
Na realidade, constitui um desafio permanente para as
autoridades a criação de condições para a satisfação de necessidades básicas
das populações, como o acesso à água, à energia, à saúde, à educação, ao transporte,
entre outras, face à existência de localidades tão afastadas umas das outras.
Recordo-me, por exemplo, da aflição da população de Monte
Trigo com o facto de terem estado, na ocasião, seis meses sem enfermeiro,
situação que entendíamos dever ser resolvida o mais rapidamente possível o que,
felizmente, terá acontecido logo de seguida.
Talvez, a complexa questão do ordenamento do território
seja o desafio maior do concelho e de várias outras regiões da ilha e do país. As
dispersões geográfica e populacional, se nos permitem uma muito rica
diversidade cultural e humana, colocam desafios de monta que condicionam todo o
processo de desenvolvimento.
Assim, ainda que em período de festas, importa circunscrever
aqui algumas preocupações que se referem a necessidades básicas da população.
A escassez de água é uma delas. Um problema importante no
país e em Santo Antão, particularmente em algumas localidades de Porto Novo, terá
mesmo sido das maiores preocupações registadas na minha visita de há ano e meio
a este município.
Porto Novo, apesar de ser o maior centro urbano de Santo
Antão, dispõe de uma população rural substancial, dedicada, essencialmente, à
agricultura, o que amplia os desafios em matéria de provisão de água, pois
institui o desafio do acesso à água em quantidade apropriada a essa actividade
bem como a processos mais racionais da sua utilização.
Consideramos o esforço que Câmara Municipal tem vindo a realizar
para garantir o seu abastecimento e conseguir que a água canalizada esteja
disponível a toda a população e percebemos que, com parcos recursos qualquer
actuação, por mais necessária e fundamental, se torna um empreendimento muito exigente.
Por isso, confiamos em que os esforços que têm sido feitos até aqui continuem a
ser prosseguidos, com obstinação, e que soluções, as mais adequadas, sejam
encontradas.
Sendo este um Concelho eminentemente agrícola, este
sector deve merecer atenção especial, não apenas no que diz respeito ao acesso
a água e aos processos agrícolas modernos, como também à criação das condições
para o escoamento dos produtos, questão que esperamos, venha igualmente a ter
um desfecho positivo com o funcionamento e utilização mais generalizada do
Centro de expurgos instalado neste concelho.
A natural vocação deste município para a agricultura e a pecuária deve ser potenciada de modo a que os agricultores, criadores de gado e suas famílias tenham mais do que o essencial à sobrevivência e possam contribuir, na dimensão das suas possibilidades, para o desenvolvimento da ilha e do país, nomeadamente acedendo aos mercados turísticos do Sal e da Boavista. O facto de, em muitas regiões do Concelho, se considerar o promissor ano agrícola, o que nos enche de muita esperança, por si só não resolve os ingentes problemas sociais deste Concelho. Várias famílias, como em outras regiões do país, vivem com muitas dificuldades num contexto em que o desemprego é elevado.
Neste quadro, intensificam-se vários problemas, com
destaque para o alcoolismo que continua a ser um dos desafios maiores do nosso
país, uma urgência nacional, como tenho repetido em muitas ocasiões.
Na oportunidade, como tenho feito em outros pontos do
país, apelo a todos, cidadãos, poderes públicos, associações de cidadãos e
muito particularmente às entidades religiosas que têm desenvolvido meritória
actividade de apoio aos mais necessitados, no sentido constituirmos todos uma
potente corrente de solidariedade com vistas a minorar o sofrimento dos que
mais necessitam nos tempos de dificuldades que estamos a atravessar.
Excelências,
Como referi anteriormente, a viagem de Monte Trigo à
cidade de Porto Novo, por estradas, na maior parte muito degradadas,
proporcionou-me uma ideia das dificuldades de acesso no Concelho.
A precariedade da rede viária limita severamente a
capacidade de ir e vir, tornando-a ao mesmo tempo muito onerosa. Neste quadro,
as autoridades municipais, as mais próximas das populações, são obrigadas a um
esforço homérico, para responder a necessidades inadiáveis, como seja a do
acesso às escolas.
Gostaria de saudar de forma efusiva a parceria
estabelecida entre esta Câmara Municipal e as demais da ilha com a Fundação
Cabo-verdiana de Acção Social Escolar, para financiar
os programas de transporte escolar de alunos carenciados das zonas mais
distantes. Este é um passo importante porquanto, apesar dos inegáveis avanços ao
nível do ensino secundário, sobretudo, ainda persistem dificuldades reais de
locomoção dos alunos.
Este procedimento demonstra,
também, que a cooperação entre instituições do Governo central e o poder local,
que é quem mais perto está da população, é o único caminho para resolver os
problemas dos cidadãos, razão pela qual todos nós somos eleitos. Em áreas essenciais para a vida das populações, a
articulação entre a as autarquias e o Governo é uma exigência e deverá ser
sempre a melhor possível, a mais adequada, evidentemente.
Acredito que um passo elementar em qualquer processo de
organização de medidas políticas e de sua execução será sempre a recolha e
sistematização das necessidades dos cidadãos, mas, depois, elas terão de ser
integradas nos limites das capacidades dos poderes públicos, num exercício que
pressupõe divisão e concertação das acções, racionalização dos custos e
garantia de qualidade da oferta de equipamentos e serviços à população.
Neste âmbito, as competências dos diferentes níveis da
administração são sempre uma questão “em cima da mesa”. O autarca é, para
muitos, o rosto mais visível da administração e o primeiro a quem se bate à
porta, muitas vezes, contudo, sem meios humanos e financeiros para resolver os
problemas.
Enquanto Presidente da República, e numa conjuntura em
que a descentralização tem sido tema constante de discussão, continuarei a ser
um acérrimo defensor de uma administração o mais perto possível das populações,
o que pressupõe, não a actuação exclusiva da autarquia, mas a conjugação, tão
perfeita quanto possível, de políticas e de instituições, capaz de maximizar os
recursos e as potencialidades, evitando a duplicação de intervenções e a
ineficácia de medidas desarticuladas.
Construir as ferramentas adequadas, estabelecer os
necessários procedimentos, buscar as obrigatórias parcerias e unir esforços
para que objectivos definidos e considerados superiores possam ser atingidos,
são os elementos essenciais de uma gestão racional e acertada da res publica.
Se a conclusão do Plano Director Municipal é uma notícia
que nos enche de satisfação, pois consubstancia um instrumento de gestão
fundamental à organização e planeamento, continuamos a insistir na necessidade
de um debate aberto, descomplexado e aprofundado sobre a problemática da
descentralização e da regionalização, que poderá proporcionar caminhos que
permitam um melhor aproveitamento das sinergias em benefício das pessoas.
Caros eleitos,
Caros Jornalistas,
Minhas senhoras e meus senhores,
As potencialidades desta ilha e deste município em
concreto são reais, a começar pelo seu património cultural e paisagístico e
pela sua aptidão para actividades económicas que contemplam não só a
agricultura, a pesca e a indústria, como, também o turismo.
Considero muito relevante o incremento que se tem
procurado conceder às actividades culturais no Concelho, nomeadamente através
das festas de romaria e de promoção de criadores culturais locais.
A proposta de
classificação das festas de São João em património cultural imaterial municipal,
aprovada pelos senhores deputados municipais, é uma exemplar demonstração do
reconhecimento e da vontade de promoção desta riqueza cultural do concelho e de
Cabo Verde. E uma
programação cultural bastante rica, como a que se tem vindo anualmente a
realizar para comemorar do dia do município, revigora esta herança e a alegria
dos munícipes e dos emigrantes, aqui em merecidas férias.
Esta postura é de valor inestimável pois, para além de
fortalecer e enriquecer o modo portonovense de ser e de estar, poderá ser um
elemento central no desenvolvimento do turismo, nomeadamente do turismo
solidário, que tem dado passos muito interessantes neste Concelho.
Para que essas potencialidades sejam adequadamente
aproveitadas, além do rigor na utilização dos recursos naturais e culturais disponíveis,
governo e autarquia têm, portanto, o enorme desafio de buscar os meios
técnicos, humanos e financeiros para os colocar à disposição, em tempo útil, desta
população e dos visitantes.
Neste processo
e diante de desafios tão nobres, não existirá uma outra prescrição do que uma
actuação política democrática e construtiva que exige uma actuação qualificada
dos agentes políticos e processos vigorosos de participação dos cidadãos, da
sociedade civil. Aos poderes públicos compete agir para resolver os problemas
de fundo da sociedade, mas a sociedade civil não pode ficar distante ou
ausente. Pelo contrário. Ela deverá funcionar como uma instância permanente de
produção de fluxos de ideias, de propostas, dirigidas às estruturas do Estado e
dos Municípios, senão mesmo aos aparelhos partidários, assegurando, destarte, a
sua democraticidade.
O dia em que
se comemora o município de Porto Novo é, pois, uma feliz ocasião para evocar
valores tão caros aos portonovenses e aos mulheres e homens de Santo Antão, como
o gosto pela liberdade, a tenacidade e a determinação em vencer a convicção nos
valores permanentes da democracia. Conhecendo a história das gentes deste
pedaço de Cabo Verde sabemos que não lhes falta a força para
o combate por nobres causas e a determinação em contribuir para o
desenvolvimento da nossa terra.
É, seguramente, a história da luta desta gente das ilhas, e desta ilha em
particular, que nos leva a acreditar e a desafiar o presente, com coragem e firmeza
em enfrentar as
dificuldades e atingir os nossos objectivos, indo muito além das muitas
conquistas já granjeadas.
Agradeço
enfim, a calorosa recepção que me foi reservada e as generosas palavras que me
foram dirigidas e estou seguro de que estes dias de convívio convosco
contribuirão para o meu enriquecimento pessoal, na perspectiva de um envolvimento
cada vez maior com os vossos anseios.
Reconheço que
a amabilidade e delicadeza das gentes de Porto Novo já me contagiaram e me compelem
a retribuir com igual afecto e muito empenho na resolução dos seus problemas e
para que Porto Novo seja lugar onde se possa viver cada vez mais com qualidade
de vida e por onde, para o visitante, seja sempre um prazer passar.
Desejo a todos um excelente dia do Município.
Muito obrigado!
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