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Armon nôs ê livre
Independente,
Dixam dob um grande abraço
Um abraço de Homem livre
Assim, cantou Manel de Novas,
cantou S. Vicente, cantou Cabo Verde, no país e no exterior. Esta terá sido uma
das músicas mais emblemáticas que exprimia, de modo a um tempo simples e muito
profundo, o sentir de nós todos, de gente que sonhou com esse grande dia, resultado
de um longo percurso histórico, feito de muita audácia, determinação e também
de muito sofrimento que temperou um Povo que edificou uma cultura que construiu
a sua originalidade no mundo.
Cinco de Julho de 1975 é um
marco. Um marco de extraordinária importância. É o dia em que a Nação passa a
dispor de um Estado, após uma longa trajectória que mergulha as suas raízes na profunda
noite colonial, no tráfico de escravos, nas secas e fomes que, contudo, também,
constituíram o cadinho onde a nossa personalidade se forjou, a nossa música
nasceu, a nossa tenacidade emergiu. De onde o nosso modo de ser e de estar
brotou.
Cinco de Julho é o coroar de
um processo que tem na cultura o seu cimento maior, na consciência identitária
uma marca indelével e na diversidade uns dos seus traços originais.
Através da criação do Estado,
a Nação ganha uma nova dimensão. Passa a dispor de um importante instrumento
que deve permitir-lhe afirmar-se da forma mais profunda, dar corpo a anseios,
por vezes seculares, e, de certa forma, medrar e favorecer e a sua irreversibilidade.
É por isso que o Estado tem
se ser sempre entendido como algo subordinado à Nação, às comunidades, às
pessoas.
Longe de limitá-lo, a
conjugação Estado/Nação, confere àquele a verdadeira legitimidade. É por essa
razão que o processo conducente à criação de um Estado Independente é designado
de Luta de Libertação Nacional. A Nação preexiste ao Estado que a liberta e que
deve ter por função permitir a sua plena realização, sem entraves. Para isso
tem de, sistematicamente, a ela se ligar, diria até submeter.
É por isso que importa
celebrar essa data, honrá-la, dignificá-la. É por isso que os que se entregaram
de alma e coração a essa gesta, nas difíceis condições de luta clandestina em
pleno no coração do regime colonial fascista, aqueles que arriscaram as suas
vidas na árdua luta armada ou, de forma anónima, resistiram à opressão
colonial, merecem o nosso mais fundo respeito, a nossa mais sincera gratidão.
A Independência Nacional é um
processo profundamente ligado à construção da Nação. É um património de todos.
Nesta oportunidade singela
rendo a minha homenagem aos combatentes da Liberdade da Pátria desta e de todas
as ilhas, aos que também estão na diáspora e aos que já não se encontram entre
nós e que merecerão sempre o nosso respeito.
Minhas Senhoras e meus
Senhores,
Temos feito uma trajectória a
vários títulos positiva. Temos feito «coisas bonitas». Da condição de país que
muitos consideravam inviável, caminhamos quase sempre serena, mas firmemente,
não sem importantes percalços, para uma realidade que muito pouco tem a ver com
a que herdamos em 1975.
O país cresceu,
desenvolveu-se, democratizou-se. Os cabo-verdianos, no país e no estrangeiro,
continuaram a demonstrar uma capacidade invulgar de realização, de criatividade
e de muita abnegação.
É facto que grandes desafios
perfilam-se à nossa frente. Os desafios de um desenvolvimento inclusivo, de um
combate às grandes assimetrias regionais, de uma organização política que assegure
maior participação das pessoas e das regiões, em suma, de um desenvolvimento
sustentado e alicerçado num alargamento e aprofundamento da nossa Democracia e de
modernização e consolidação do nosso estado constitucional.
Mas devemos ter a consciência
de que hoje os acontecimentos sucedem-se a um ritmo muito acelerado, mudando a
cada instante a configuração das mais diversas áreas. É nesse mundo global que
temos de nos inserir, construir o nosso lugar para o nosso destino se edifique
à imagem e semelhança dos nossos sonhos.
Minhas Senhoras e meus
Senhores,
Caros Mindelenses,
Prezados amigos,
A ilha de S. Vicente teve uma
participação muito importante no processo que conduziu à independência de Cabo
Verde, à sua consolidação e à democratização da sociedade e do Estado.
Em todos os momentos
marcantes da nossa história esta ilha sempre disse presente, situando-se por
vezes na vanguarda das ideias consideradas mais ousadas e inovadoras,
constituindo-se numa referência incontornável da nossa marcha para o
desenvolvimento e para a construção de um Estado moderno, democrático e
inclusivo.
É este o sentido da minha
presença, aqui e agora, entre vós, num contexto de acentuadas dificuldades. É o
reconhecimento da grande contribuição que este pedaço muito especial de Cabo
Verde tem dado ao engrandecimento do nosso país.
Depois de, a partir da
Assembleia Nacional, me ter dirigido a todos os cabo-verdianos, em Cabo Verde e
no estrangeiro, entendi por bem vir a esta emblemática e formosíssima cidade
celebrar convosco a conquista da independência para a qual os sanvicentinos tanto
contribuíram.
Estamos em festa. Mas esta
alegre circunstância ocorre num momento em que nós, juntamente como muitos
outros países, sofremos as consequências de uma profunda crise económica e
financeira que nos obriga a reflectir sobre as nossas dificuldades, sobre os
problemas que sabemos não serem poucos e que nesta ilha assumem proporções
importantes, particularmente no que toca à actividade económica e ao
desemprego.
Temos consciência das
dificuldades por que passam muitas famílias, dos graves problemas enfrentados
pelos jovens, das grandes limitações das actividades económicas e empresariais e
suas consequências sociais.
Estou certo de que, graças à
grande criatividade, ao espírito de iniciativa e sobretudo ao sentido de
responsabilidade dos cidadãos de São Vicente e dos responsáveis políticos desta
ilha, serão criadas as condições para que um diálogo produtivo entre os
parceiros e que ele se estabeleça com a máxima urgência.
É necessário que medidas
céleres sejam adoptadas para minimizar o sofrimento dos mais vulneráveis
enquanto as medidas de fundo não dão os frutos desejados.
Minhas Senhoras e meus
Senhores,
Não tenho dúvidas de que,
como sempre acontece nos momentos de maiores dificuldades e também nas ocasiões
de grandes celebrações, as energias existentes neste Povo serão criativa e adequadamente
canalizadas para a solução dos problemas maiores.
Estou certo de que os eleitos
municipais e os eleitos nacionais de S. Vicente, as diferentes forças políticas,
os grupos económicos da ilha e as personalidades desta terra, juntarão esforços
para dinamizar e potenciar o máximo possível as características e as
especificidades desta ilha e traçar caminhos capazes de impulsionar e sustentar
a economia da ilha e desta região do país.
Este é um trabalho que exige
obrigatoriamente o contributo de todos para que as soluções encontradas
efectivamente respondam aos problemas de todos os sectores económicos, para não
cairmos na armadilha de acreditarmos que estamos s fazer bons acordos e afinal
estarmos a prejudicar ou a desperdiçar as poucas riquezas naturais que temos.
Neste esforço conjunto de
procurar soluções, o Presidente da República estará sempre presente e não
deixará de usar todos os seus poderes constitucionalmente consagrados para se atingir
tal desidrato. Contribuir para que se encontrem modelos de desenvolvimento que
permitam o crescimento económico sustentável desta ilha, e, por conseguinte, se
criem oportunidades para a juventude mindelense se realizar profissional e pessoalmente,
faz e fará parte da minha agenda permanente.
Neste âmbito e contexto, o
debate franco, sem fantasmas nenhuns, autenticamente democrático sobre a
descentralização e a regionalização deve ter lugar, devendo a ilha, os seus
responsáveis, as instâncias da sociedade civil e os cidadãos estar na linha de
frente. Debate que não pode esperar muito mais tempo, aproveitando-se,
inclusivamente, a circunstância de previsivelmente não haver eleições nos
próximos anos.
Minhas Senhoras e meus
Senhores
A Independência Nacional é
algo de que todos nos orgulhamos e a sua celebração é um importante hino a valores
que nos têm caracterizado de forma muito especial: a nossa unidade, a nossa
coesão, o amor à nossa cultura, o nosso profundo sentimento de ser cabo-verdianos
e de dignidade humana.
Na qualidade de Chefe de
Estado, de garante da Constituição e da unidade nacional, conclamo pois a todos,
no país e na diáspora, a que preservemos esses valores, pois além de serem
importantíssimos elementos definidores da nossa identidade colectiva,
consubstanciam factores essenciais ao nosso desenvolvimento.
No quadro da nossa rica
diversidade promovamos a nossa coesão, aprofundemos a nossa unidade,
preservemos os nossos valores éticos fundadores. Essa será uma das vias pela
qual a Independência Nacional continuará a ser a consolidação do legado
histórico e cultural que mergulha as raízes na profunda noite colonial e
projecta cada vez mais altiva e seguramente o nosso futuro para as alturas do
nosso sonho que se alimenta em permanência da intrepidez e da inabalável
confiança/ certeza do nosso Povo.
- Agradecimentos a todos
Viva S.Vicente!
Viva o Cinco de Julho!
Viva Cabo Verde!
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