O teatro é, sem dúvida, uma das formas de expressão artística mais populares e envolventes do nosso país e, actualmente, vive alguma efervescência nessa área. Nas escolas, nas comunidades, nas poucas salas de espectáculo disponíveis, jovens e menos jovens encarnam personagens, adoptam diálogos e difundem mensagens dirigidas a um público sedento e quase sempre participativo.
Alguns grupos têm procurado
afirmar-se e, no meio de grandes dificuldades, a criatividade cresce, a
preocupação com a formação é cada vez maior e o intercâmbio com outras
passagens e lugares, outros actores e outros encenadores, torna-se muito
visível.
É facto que nem todos os grupos
se encontram ao mesmo nível. A dispersão geográfica e a desigualdade de
oportunidades são uma evidência que a busca de intercâmbio no país, ainda que
ténue, procura colmatar.
Com frequência ouvimos apelos de
apoio relativamente à cedência de espaço para actuação, a bolsa para formação
ou de auxílio para deslocação, para os quais por vezes chegam, outras vezes
tardam ou, simplesmente, não surgem respostas apropriadas.
Mas, importa ressaltar que, sem
grandes condições, os grupos vão evoluindo, festivais vão acontecendo e a
interacção com o público desenvolve-se e aprofunda-se.
Neste dia Internacional do
Teatro, homenageio de forma muito particular esse exército de jovens que, com
talento, muita intuição e com quase nada em termos de condições materiais, um
pouco por todo o país, se entrega à tarefa de exteriorizar, através da arte
cénica, a sua criatividade, o seu modo de recriara a vida.
Não duvidamos que a intuição e a
boa vontade são elementos muito importantes na esfera artística, ainda que,
sabemo-lo, manifestamente insuficientes. Assim, para que essa potencialidade se
concretize, para que ela proporcione cada vez mais a qualidade que ansiamos e
que alguns grupos têm demonstrado estar ao nosso alcance, elas têm de ser
cultivadas, desenvolvidas, estimuladas.
Acredito que nesta esfera a
educação pode ter um papel relevante, pois ela convive com quase todos os potenciais
actores, dramaturgos, encenadores, técnicos de luz e som e outros importantes
agentes, sem contar que, também, está perante o elemento central que é o
público que, igualmente, necessita ser educado.
Na esfera do teatro e da arte em
geral, a Educação e a Cultura têm de estar em articulação muito estreita. A
arte é essencial para a qualidade de vida das pessoas e para que, por exemplo,
as actividades turísticas, motor da nossa economia, sejam diversificadas e
abrangentes, sem que tal possa constituir alguma forma de instrumentalização.
Entendo que uma das formas de
reduzir as assimetrias existentes entre os diversos espaços teatrais pode ser
uma espécie de discriminação positiva que, articulando o Ministério da Cultura,
as Câmaras Municipais e outros agentes, permita, por exemplo, levar formadores
e grupos teatrais de renome a regiões onde estes, dificilmente, poderão chegar
sem uma política de incentivos.
Deve, igualmente, ser considerada
a possibilidade de apoiar o aprofundamento e a extensão das actividades do
emblemático projecto Mindelact a outros pontos do país, para além de
investimentos na melhoria ou criação de condições que permitam que as artes
cénicas tenham as condições mínimas de afirmação.
Os nossos actores e encenadores
já demonstraram, à exaustão, que, quando as condições estão reunidas, a sua
qualidade é inegável e a sua capacidade invejável. É o caso do grupo mindelense
da Ribeira de Craquinha, Craq'Otchod, que receberá hoje,
da associação Mindelact, o Prémio de Mérito Teatral 2013.
Neste dia em que coube ao Dramaturgo Actor italiano e Prémio Nobel da Literatura, Dario Fo, com quem partilho a presidência honorária do Festival Sete Sois Sete Luas, proferir a mensagem alusiva ao dia Mundial do Teatro, dirijo uma saudação muito especial aos actores, dramaturgos encenadores e demais fazedores de teatro que, quotidianamente, através da fantasia e da emoção, nos permitem mergulhar nas nossas realidades e desafios individuais e sociais, ser mais gente do mundo ser mais cabo-verdiano.
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