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Sua Excelência, Ministra Adjunta e da Saúde,
Exma. Sra. Presidente da Comissão Nacional
dos Direitos Humanos e da Cidadania - CNDHC,
Exma. Sra. Adélcia Pires,
Exmos. Senhores Embaixadores,
Exmos. Senhores Activistas dos Direitos
Humanos e Cidadania,
Exmos. Jornalistas,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Senti-me profundamente honrado com o
convite que a Comissão Nacional dos Direitos Humanos e suas organizações
parceiras me endereçaram para proceder ao encerramento deste Fórum. Por se
tratar de tema tão relevante para vida social cabo-verdiana, como o é o tema da
paternidade responsável, minha presença no fecho deste dia cheio pretende
exprimir, pois, a consideração e o interesse que a iniciativa granjeia da parte
do Chefe de Estado.
Assim, cumprimento e felicito os promotores deste evento e todos quantos participaram neste fórum e que puderam contribuir, com as suas ideias e observações, para a campanha “por uma paternidade responsável” que hoje foi lançada e que, nos próximos seis meses, irá sensibilizar-nos, a nós, cidadãos, famílias, instituições do Estado e organizações da sociedade civil, para a importância de assumirmos as nossas responsabilidades parentais e usufruirmos dos nossos direitos de pais.
Aos Exmos. Senhores Representantes da Cooperação
Francesa e do Escritório das Nações Unidas em Cabo Verde, para além de outras
instituições, que tornaram possível os requisitos para que este evento se
fizesse facto, endereço uma saudação e um agradecimento muito especiais.
Sra. Ministra,
Sra. Presidente da CNDHC,
Sra. Presidente da CNDHC,
Exmos. Representantes das Confissões Religiosas,
Senhores Embaixadores,
Minhas Senhoras e meu senhores,
Debater o tema da paternidade responsável significa,
na realidade, uma profunda e ampla reflexão sobre um objecto multifacetado, que
articula diversas áreas do saber, escolhas e sentimentos individuais, sendo,
portanto, um tema de grande complexidade, aliás como foi salientado nos
trabalhos desta assembleia e nas recomendações.
Se por vezes somos chamados a interceder, seja como
juízes, técnicos sociais, activistas dos direitos humanos ou como pais, na
questão da paternidade responsável, e o fazemos cingindo a aspectos, amiúde os
mais expostos e os mais frequentes da questão, - nomeadamente, os relacionados
à provisão das condições materiais de existência dos filhos - a apreensão mais
global deste tema exigirá uma análise mais alargada, como o compreenderão muito
bem os presentes.
Sem termos a ambição de nos debruçarmos sobre questões
de natureza especial ou sobre peculiaridades, já ponderadas por vocês durante
este dia, o assunto que move este Fórum merece, por nós, destaque no que aos
seus princípios, primordiais a um Estado Social de Direito democrático, diz
respeito; a dignidade da pessoa humana, a autonomia e os direitos fundamentais,
constituem o esteio e o fundamento sobre os quais o tema da paternidade
responsável adquire acrescido sentido e valor.
O exame da paternidade que, em nosso ponto de vista,
compreende, desde a escolha reflectida da constituição da prole à garantia das
condições económicas, sociais e culturais para a seu completo cumprimento,
envolve, desde logo, o princípio da dignidade humana.
A dignidade humana surge em duas dimensões,
conjuntivas, ambas merecedoras de atento cuidado, e, por isso, aqui recortadas,
ainda que nos limites desta curta intervenção. Referimo-nos às suas dimensões
autonómica e assistencial.
Ela apresenta-se na escolha autónoma sobre a concepção
– quando e quantos filhos cada homem e cada mulher pretendem – e no dever
parental dos pais perante as crianças e os adolescentes.
Em nossa percepção, só terá preservada a sua dignidade
quem tiver a garantia do exercício de sua autonomia, fazendo da paternidade uma
escolha livre e consciente; do mesmo modo que apenas a terá defendida quem
tiver as condições materiais para desempenhar as funções que tal paternidade
lhe atribui.
A educação e a informação suficientes e condições
económicas mínimas adequadas, nós pensamos, serem as condições óptimas a partir
das quais poderão os indivíduos fazer uma escolha esclarecida e ajuizada e
estar em situação de cumprir, de modo pleno, a sua obrigação de pai, como
provedor material dos filhos e titular de um papel socio-afectivo central na
sua educação.
Prezados amigos,
Como já nos referimos, não era nossa pretensão
confinarmo-nos, nesta ocasião, ao tratamento de questões que já foram,
seguramente, convenientemente analisadas pelos diferentes oradores e que já
mereceram um activo debate entre os participantes deste Fórum, embora sejam
questões, sem dúvida, centrais à matéria da paternidade, como sejam os
privilégios de género, historicamente firmados na nossa sociedade ou a
reprodução de modelos familiares herdados dos nossos antepassados. Também não
pretendemos assinalar de forma particular o problema, básico para muitas
famílias cabo-verdianas, qual seja o da garantia da pensão alimentícia dos
filhos.
Partindo do seu reconhecimento, preferimos dispor
desta oportunidade para, em primeiro lugar, evidenciar a importância constitucional
e humana do tema da paternidade responsável, e para, em consequência, nos
mostrarmos auxiliares aos que pretendem interrogar-se sobre os protótipos de
paternidade existentes entre nós e sobre aqueles que se pretenderão edificar.
Como bem se fez alusão durante as intervenções feitas
durante os trabalhos, o conhecimento da nossa realidade, a sua funda e crítica
reflexão, constitui, não a única, mas a pedra-de-toque para o sucesso das
estratégias que tenham como finalidade uma mudança de comportamentos no que diz
respeito à paternidade.
A evidência de alguma carência de políticas públicas
que tenham por fim o reforço da paternidade responsável, - sobretudo nos
domínios da educação e da cultura, passando pela política da saúde e da
equidade de género e pela matéria legislativa -, remete-nos, evidentemente, à
imprescindível ponderação acerca do muito caminho que ainda há a percorrer
nesta matéria e sugere-nos que bons resultados poderão ser possíveis com
adequada compreensão das nossas realidades e com a escolha e a realização de
medidas acertadas.
Dados apontam, por exemplo, que com uma paternidade
responsável se poderá alcançar resultados importantes em termos da saúde
materna; que à medida que os pais se envolvem nos cuidados dos filhos, os indicadores
de desenvolvimento infantil melhoram; que à medida que a participação masculina
nos cuidados com os filhos aumenta, a violência contra mulheres e crianças
diminui e, que à medida que aumenta a participação masculina nas tarefas de
cuidado, a saúde física e mental dos homens melhora.
Minhas senhoras e meus senhores,
Se o estímulo ao exercício da paternidade obteve
reconhecimento internacional e se a paternidade responsável é um princípio e um
dever previstos na nossa constituição, sabemos que, infelizmente, aqui e em
muitas sociedades, o cuidado com a paternidade ainda se manifesta de modo
bastante frágil e deficitário, requerendo acções muito mais vigorosas.
Sabemos que no nosso país são demasiado tímidas as
medidas políticas e legislativas que têm em vista a paternidade responsável. É
patente, nesta matéria, por exemplo, o facto de se considerar como falta, ainda
que justificada, a ausência do trabalhador/funcionário por ocasião de
nascimento do filho, podendo ter a duração de apenas dois dias; igualmente,
salta à vista a inadequação das instituições nesta matéria. Os hospitais, por
exemplo, estarão preparados para receberem os pais que queiram acompanhar o
parto ou que, quando não presenciem o nascimento, queiram visitar o filho nos
primeiros minutos de vida? Existirá cobertura legal para os pais que queiram
acompanhar o processo do pré-natal ou que queiram acompanhar os filhos às
consultas pediátricas? Que espaço tem sido reservado aos homens em termos das
políticas de saúde reprodutiva?
Sra. Ministra da Saúde,
Sra. Presidente da CNDHC,
Em Cabo Verde dados apontam para 37,6% das famílias
cabo-verdianas como famílias monoparentais, sendo em quase 68% delas a mulher a
única fonte de recursos, tanto do ponto de vista económico como educativo e
social;
Se é verdade que em Cabo Verde o modelo de família tem
sido, tradicionalmente, o da família monoparental, em geral chefiada por
mulheres, não se deve, em nosso juízo, e conforme já debatido por vós,
invalidar os prejuízos que poderão advir deste padrão familiar.
Se, por um lado, é necessário afastar ou, pelo menos,
ponderar juízos que colam etiquetas nem sempre reais e exactas à família
monoparental, intitulando-a “desestruturada” e/ou “disfuncional”, a presunção
de que a ausência do pai possa, no âmbito da complexificação da realidade
actual, contribuir para os comportamentos sociais indesejáveis, não deve ser,
de todo, apartada.
Uma paternidade não responsável tem consequências
gravíssimas sobre as crianças e os adolescentes. Estudos demostram que a
ausência da figura paterna tem um impacto importante no desenvolvimento
cognitivo, emocional e social das crianças.
Devemos, por tudo isso, continuar a diligenciar, pela
via da prática política e social, por um modelo de paternidade, que, assente numa
ponderação crítica das nossas heranças e valores culturais e assente nas
realidades materiais de nossos agregados familiares, possibilite e exija ao
homem uma participação muito mais activa, diria mais moderna na educação dos
filhos, que vá muito além da provisão material, sendo esta, igualmente,
indispensável.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
O facto de o nosso país ser – nos termos
constitucionais - um Estado Social de Direito Democrático, que reconhece a
família como a base da sociedade que, como tal, deverá ser protegida pela
sociedade e pelo Estado, não significa que omissões e imperfeições existam e
que estas terão de ser necessariamente preenchidas e aperfeiçoadas, evitando
que se somem suas consequências sociais indesejadas, tanto para as crianças e
os adolescentes, para os pais, como para o funcionamento da sociedade no seu
todo.
Neste quadro, as instituições sociais que se fizeram
parceiras deste projecto da CNDHC, tanto as da sociedade civil como as do
Estado, que trabalham diariamente com a questão, têm, nesta ocasião, uma
importante oportunidade para reflectirem sobre suas acções, sobre o que estará
contribuindo para o exercício de uma nova forma de paternidade, muito mais
efectiva e afectiva, mas também sobre as mudanças que terão de ser incentivadas
e concretizadas, para que as melhorias no domínio da questão da paternidade
responsável sejam mais expressivas.
Ao envolver as diferentes organizações neste encontro
de reflexão e sensibilização para temas relacionados com a paternidade
responsável, fica, pois, evidente a ambição de se congregar entidades com
responsabilidades e competências susceptíveis de criar ou favorecer as
circunstâncias que possam conduzirà efectividade do princípio da paternidade
responsável. Princípio que a Constituição procurou enfatizar ao eleger a
protecção integral a crianças e adolescentes como prioridade absoluta,
delegando não só à família, mas também à sociedade civil e ao próprio Estado, o
compromisso pela formação do cidadão de amanhã.
Nada justifica pois liberar o pai, o progenitor, das
obrigações, e também das alegrias, que surgem com a concepção do filho. Esta
campanha e todas as acções “por uma paternidade responsável” merecem, pois,
todo o meu apoio e aplauso.
É, pois, com grande prazer que saúdo esta assembleia
que, na cidade da Praia, durante o dia de hoje, se debruçou sobre tema de tanta
importância.
Desejo a todos os pais um feliz dia e declaro
encerrado o Fórum “Os desafios da assunção da paternidade em Cabo Verde”.
Obrigado!
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