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Magnífico Reitor, Doutor Jorge Sousa Brito,
Exmos. Senhores Cirurgiões,
Exmos. Senhores Clínicos,
Exmos. Senhores Professores,
Prezados Alunos,
Excelentíssimos Senhores Jornalistas,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Ao voltar a esta Casa, agora na qualidade de Presidente da
República, não posso deixar de me recordar, com grande prazer, que há pouco
mais de um ano fui aqui acolhido, na condição de candidato, numa memorável
jornada democrática.
Na ocasião, num importante momento da nossa
democracia, a Universidade Jean Piaget deu mostra de ser uma instituição de
Ensino Superior em sintonia com os problemas da sociedade e com os seus
anseios.
Aliás, uma das características e grande desafio da
Universidade nos tempos actuais é a assumpção do papel de ponte entre o
universal e o específico, isto é, entre a promoção do conhecimento universal e
a sua aplicação a realidades concretas, no sentido de contribuir para o aumento
desse conhecimento e, simultaneamente, para a resolução das questões que
inquietam as pessoas, as comunidades e os países. Ora, essa relação só é
possível se houver uma estreita articulação entre a Universidade e o seu meio.
Minhas senhoras e meus senhores,
É provável que nos dias de hoje esse papel de
mediador, entre conhecimento e sociedade, seja o mais difícil e importante de
conseguir, pois no que se refere à produção, acesso e reprodução do
conhecimento, os avanços hoje são incomensuráveis.
A profundidade com que a aplicação do conhecimento
circula entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno deslumbra-nos a
todo o momento e cimenta a ideia de que as possibilidades do conhecimento são
insuperáveis.
Igualmente, a capacidade de difusão do conhecimento
parece ilimitada. Não me refiro apenas à sua divulgação, por vezes acrítica, no
seio do grande público, mas à investigação, à pesquisa científica, que tem
permitido aos estudiosos de todo o mundo funcionar em rede, construindo um
excelente processo de circulação do conhecimento.
Contudo, convém referir que, se essa difusão está
assegurada, nem sempre ela se transforma em factor de progresso local. E penso
que aqui reside uma das mais importantes, se não a mais importante, tarefa da
Universidade.
Este desafio, de transformar os conhecimentos
universais em ferramentas para o equacionamento de problemas locais, não de
fácil resolução. O desfasamento entre os grandes avanços científicos e
tecnológicos e as respostas a questões centrais da humanidade continua abismal.
Minhas senhoras e meus Senhores,
É facto que, abstractamente, se pode dizer que não
cabe à Universidade a tomada de decisões, mas sim proporcionar aos decisores
políticos os dados mais adequados para que as opções sejam as mais correctas
possíveis.
À Universidade cabe a produção do conhecimento que
tanto pode ser utilizado num ou noutro sentido ou ser, pura e simplesmente,
ignorado.
Mas procede indagar-se se apenas esse deve ser o
papel da Universidade, quando sabemos que muitas vezes ela constitui
instrumento decisivo na concretização de políticas inadequadas. Pensamos que,
com toda a liberdade, com a autonomia máxima, a Universidade deve ter o papel
de produzir e transmitir conhecimento na perspectiva de, simultaneamente,
influenciar as decisões que são vitais para a sobrevivência, física, social e
cultural das pessoas.
Caros membros da comunidade académica,
Recentemente, no contexto de um debate sobre a
Universidade, insistia no papel dessa instituição e da educação no seu sentido
mais amplo, enquanto factor crucial no processo de desenvolvimento.
Com isso não se pretende que ela deva cingir-se,
numa perspectiva limitativamente pragmática, ao papel de simples agente
formador de mão- de-obra, mais ou menos qualificada.
Ela deve ter essa função, primordial em sociedades
como a cabo-verdiana, pois as pessoas capacitadas são fundamentais para o
desenvolvimento inclusivo do país, o aprofundamento e alargamento da nossa
democracia, mas, igualmente, a de participar na incessante construção da
verdade.
Por mera comodidade, reitero o que, nessa ocasião,
sugerira, socorrendo-me de Aristóteles:
“A Universidade, Comunidade de Alunos e Mestres,
surge neste longo processo como uma pedra basilar. As grandes questões a
que se tem tentado dar respostas ao
longo da sua história no Ocidente terão sido formuladas por Aristóteles há 2500
anos, ao defender que o ensino deve permitir que se realizem actos úteis, mas
ainda mais actos honrosos.
Eu cito: "É preciso realizar actos necessários
ou úteis mas ainda mais acções honrosas. Estes são os objectivos da educação
para as crianças e nas demais idades que requerem formação" Fim de
citação.”
Se é facto que, nem sempre os termos desse binómio
caminharam de forma equilibrada, pois, conforme os contextos, ora prevaleceu ora
outro, não restam dúvidas de que há muito esse casamento é quase um imperativo
ético.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Entendo estas V Jornadas Internacionais de Cirurgia
como uma importante contribuição que se inscreve no ângulo que no meu
entendimento, a Universidade deve seguir.
Isto é, na área da saúde, sector de importância
ímpar para nós, proporciona-se, assim, aos cabo-verdianos, o intercâmbio com
colegas de outras paragens, que seria interessante se fosse um primeiro passo
para uma articulação mais duradoura e que, eventualmente, pudesse estender-se a
outras áreas.
Considero louvável que temas essencialmente ligados
à Cirurgia, relevantes para o nosso sistema de saúde, sejam objecto de reflexão
entre eminentes especialistas de cinco países e seria auspicioso que fosse o
começo de uma articulação em rede, tão importante quanto enriquecedor nos dias
de hoje.
Igualmente, entendo como muito salutar a
experiência, inédita entre nós, creio, que consiste na transmissão, em tempo
real, de uma cirurgia realizada a muitos milhares de quilómetros de distância.
Estamos, sem dúvidas, perante dois aspectos
relevantes para a Universidade: a possibilidade de funcionamento em rede e o
aproveitamento das novas tecnologias para apoiar o desenvolvimento do sector
saúde.
Espero que estas Jornadas representem um salto
qualitativo da Uni Piaget no sector da saúde, no sentido de transpor a
meritória intervenção de apoio a pessoas de baixo rendimento, para assumir uma
participação activa também no debate de questões relacionadas à saúde do país.
Trazer a Cabo Verde renomados cirurgiões para
intercâmbio com conceituados especialistas do nosso país é de grande interesse.
Acreditamos que essa permuta nos dois sentidos seja extremamente enriquecedora
e no que nos diz respeito, não temos dúvidas de que os prestigiados quadros
envolvidos neste evento tudo farão para transmitir e aprofundar seu
conhecimento.
Como referi há pouco, cada vez menos fronteiras
físicas, ou de outra natureza, dificultam a difusão do conhecimento, como,
aliás, atesta a intervenção cirúrgica a que referimos atrás.
Insistimos em que este tipo de intercâmbio é de
importância singular quando sabemos que o Ministério da Saúde ensaia os
primeiros passos no sentido de se socorrer da telemedicina para, por um lado,
minimizar, na área da saúde, os constrangimentos decorrentes da nossa realidade
arquipelágica e, por outro, aproveitar as grandes potencialidades que podem
resultar de parcerias com grandes centros de saúde do exterior.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Como sabemos, a saúde é um dos grandes desafios que
temos pela frente. Inegáveis são os avanços conseguidos nesta área, mas imensos
são os desafios que se perfilam no horizonte.
Em primeiro lugar está a resposta a necessidades não
satisfeitas de uma boa parte da nossa população que ainda não dispõe de uma
cobertura adequada no que se refere aos cuidados primários e saúde.
Em segundo lugar a crescente necessidade de,
simultaneamente, se fazer face a problemas relativamente novos entre nós. Isto
é, ao mesmo tempo que temos ainda de enfrentar, cada vez menos, é verdade,
patologias relacionadas com a água, o saneamento e a cobertura vacinal, somos
obrigados a lidar com problemas idênticos aos de países mais avançados e que
exigem conhecimento, equipamento e investimentos nem sempre disponíveis.
Em terceiro lugar, necessitamos abordar questões
relacionadas com a saúde, estreitamente ligadas à evolução do turismo, motor do
nosso desenvolvimento.
É claro que quem tem de fazer face a problemas dessa
complexidade, e num contexto em que as reivindicações dos cidadãos em matéria
de saúde são cada vez mais intensas, tem todo o interesses do mundo em
potenciar as possibilidades de intercâmbio quer nos moldes, aliás
insubstituíveis, deste corpo a corpo de especialistas, quer através da
utilização dos modernos meios de tecnológicos.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Gostaria de saudar de forma muito calorosa os
eminentes cirurgiões de Angola, Espanha, França e Portugal e desejar-lhes uma
óptima estada entre nós.
Aos especialistas nacionais que, no dia-a-dia, vão
construindo, com o seu saber e a sua abnegação, o nosso sistema nacional de
saúde, uma palavra de reconhecimento e incentivo no sentido de continuarem a
aliar a intervenção prática à reflexão científica.
Agradeço penhoradamente as palavras generosas que me
foram dirigidas e felicito vivamente a Uni Piaget, na pessoa do Magnífico
Reitor por esta brilhante iniciativa.
Declaro abertas as V Jornadas Internacionais de
Cirurgia.
Muito obrigado.
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